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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os 3 tempos da campanha

Por Marcos Coimbra (Publicado em Carta Capital)


"O atual modelo de disputa eleitoral não favorece o voto consciente..A partir de 5 de julho, vamos
entrar na fase de anacronismos tolerados 

Vai começar o segundo tempo da campanha presidencial. Mais exatamente, em 5 de julho, data-limite para que os partidos registrem o nome de seus candidatos e dia do início oficial da propaganda eleitoral.
Até lá, a campanha vive o final do primeiro tempo, seu pior momento. Como durante quase todo ele não existem formalmente candidatos, ela não pode existir às claras. Tudo o que os atores políticos fazem, tendo em vista o processo eleitoral, fica em uma zona escura, vizinha da ilegalidade. Esse tempo é um inferno, cheio de coisas proibidas. 
Na verdade, há algumas que se aceitam. Nossa legislação eleitoral permite que os partidos façam consultas a seus filiados, promovam discussões e debates programáticos internos. Desde que aconteçam entre quatro paredes, cuidando para que os cidadãos comuns não participem. 
Mas nenhum partido pode ter candidato antes das convenções (que só são autorizadas após 10 de junho) e ninguém é livre para dizer que é. Qualquer gesto em contrário é passível de ser enquadrado como promoção de algo que a legislação não admite, a candidatura “fora de hora”. Falar dela é “propaganda antecipada”. 

Regras como essas nunca foram respeitadas na vida real. E é bom que nosso sistema político tenha preferido ignorá-las. Se o mundo fosse assim, o País acordaria no dia 6 de julho para só então começar a pensar no que faria 90 dias depois. Seria um prazo curtíssimo, até para quem tem todo o tempo do mundo para se dedicar a conhecer os candidatos. “Antecipar” a propaganda, no fundo, é dar mais tempo aos eleitores para que pensem nas escolhas que terão pela frente. 
Como todos atravessam essa etapa em relativa ilegalidade, é sempre possível acusar alguém de uma conduta irregular. Veja o que aconteceu em maio: o PT usou seu tempo “partidário” na televisão para fazer exatamente aquilo que todos os partidos sempre fizeram, propaganda eleitoral, em vez de divulgar sua “doutrina”, como exige a legislação. É uma prática tão velha quanto a Sé de Braga, normal na tradição de nosso sistema político. O PSDB e seus simpatizantes protestaram, se indignaram, foram aos tribunais. Mas, duas semanas depois, a campanha de Serra fez exatamente o mesmo, no seu próprio programa e nos do DEM e do PPS. Aí, a vez de estrilar foi do PT. 

Em 5 de julho, as campanhas saem do inferno, mas não vão diretamente ao paraíso. Antes que chegue o período luminoso em que a televisão e o rádio ficam à sua disposição, têm de atravessar o purgatório, que dura até 17 de agosto. 
A legislação trata essa etapa como se estivéssemos em plena década de 1940. Ela tolera, antes de agosto, apenas verdadeiros fósseis da comunicação política: carros de som, alto-falantes na porta de comitês, comícios, outdoors. Todos ainda existem, mas nenhum tem a importância que teve no passado. Nas eleições presidenciais, não servem para quase nada. 

Os comícios são o caso mais óbvio de perda de relevância. Nas cidades maiores, onde a agenda permite que os candidatos a presidente estejam presentes, costumam ser apenas um incômodo. Atrapalham o trânsito, sujam as praças. Só militantes vão. Sem músicos e atrações, tornam-se monótonos. Seus organizadores sempre ficam com medo de que ninguém vá e a imprensa mostre que foram um fracasso. Daí, arrebanham espectadores em troca de lanches e gorjetas, o que só aumenta o clima de desânimo. 
Se os comícios são, hoje em dia, isso, para que servem os “palanques” que os candidatos tanto procuram? Com sua decadência, onde seriam exibidas as alianças estaduais, tão cobiçadas? Na televisão? 
Quando ela chega, as campanhas entram no paraíso. Mas é um tempo minúsculo, que dura apenas um mês e meio. Serra e Dilma só terão 17 oportunidades de se apresentar em seus 7 a 10 minutos de programas eleitorais, à tarde e à noite. Adicionalmente, terão o equivalente a pouco mais que a metade disso em inserções espalhadas na programação das emissoras. 

Isso força as campanhas a adotar uma linguagem totalmente publicitária na sua comunicação com o eleitor. A valorização da imagem e o abuso do apelo emocional tornam-se inevitáveis. 

Um dia, quando resolvermos que é hora de fazer uma boa reforma em nossas instituições e práticas políticas, teremos de rever o modelo de campanha a que chegamos. Começando a ter de se esconder, atravessando uma fase de anacronismos tolerados, ela desemboca em uma breve explosão televisiva. Podemos ter certeza de uma coisa: é um modelo que pouco- favorece o voto consciente." 

7 comentários:

joão alberto lupin disse...

darlan,você viu postagem no blog do crato? eles falam de censura em cuba, china, venezuela... e já estão perseguindo minhas postagens ERÓTICAS e as RELIGIOSAS. as "senhoras" do crato estão escandalizadas com as minhas postagens. eu não quero trazer constrangimentos ao cariricult e nem criar falsas polêmicas. quero saber das pessoas,além de você, o que acham? sempre pautei minha arte sem me prender muito a ideologias, nem seitas e quitais. achei o caminho da liberdade e da independência. aí me deparo com pessoas que,ao contrário,querem colocar rédeas à LIBERDADE e à criação ARTÍSTICA.

Unknown disse...

João Alberto, você tem todo o direito de postar aqui. Alguns que antes mandavam nos jornais , na rádio, faziam colunas sociais e tudo o mais, estão cada vez mais perdendo o domínio que tinham antes.
Mas o pior é que se incomodam com os que os outros estão escrevendo. Se pudessem, probiriam. Mas não podem e não conseguem.
Aí, todo esse rancor. Cada um não tem o seu espaço? Para que implicar contigo?
Por mim, ignoramos essas provocações.
E você, continue com suas postagens.

Abraço.

Unknown disse...

E esse lance de "respeitável senhora" escandalizada, que coisa mais cavernosa.
Qual será o critério para dizer que a tal senhora é "respeitável"?

A Inquisição não pode mais perseguir ninguém.

joão alberto lupin disse...

gostaria de que mais pessoas (fora dos círculos religiosos) se manifestassem. sei que é difícil para as pessoas que moram no mesmo lugar, opinarem, porque temem ferir as suscetibilidades uns dos outros. acho que os FALOS passaram impunes. agora,a foto do PAPA, abriu as compotas do sacralizado,do intocável.
suas palavras são reconfortantes. me dão um chão em que pisar. VALEU, mesmo!

joão alberto lupin disse...

ps. antes que alguém me corrija: onde se lê COMPOTAS, leia-se COMPORTAS.

Amelia Nogueira disse...

Suas postagens são inteligentíssimas!!!! o que escandaliza hoje se não essa censura à liberdade??? Adiante.. Quero ver mais e mais postagens suas aqui!!!

joão alberto lupin disse...

amélia, que bom que aparecestes em meu socorro. os abutres andam querendo comer a minha carne viva. tenho NOGUEIRA no meu sobrenome. será que somos parentes?