SAMBA CANÇÃO – Parte I
Por Zé Nilton
Não faz muito tempo os músicos e compositores brasileiros chegavam a engalfinharem-se quando o assunto era ritmo. Consenso total sobre os ritmos de carnaval. Apesar de que houve um tremendo esforço para se chegar a uma conclusão quando da passagem do maxixe para as novas batidas sob o mesmo compasso. Acontecia de uma música ser escrita dentro de um ritmo e logo em seguida ser registrada e até gravada sob outro gênero. É o caso de “Pelo Telefone”, “ Aí, ioiô” etc.
O samba canção surgiu assim meio sem querer no interior do mundo da música no Brasil. Precisava-se de músicas para preencher a vaga deixada pelo tempo do carnaval e eis que, - “olha só o que é que eu fiz”... - Mas isto é parecido com bolero, não ? - Não, é um sambinha. – Eu acho que parece com canção. – Bota aí para as músicas de meio de ano e estamos conversados.
No meio do ano cabiam todos os ritmos, menos os de carnaval.
Diz-se do samba-canção muito adequado à dolência e a malemolência do momento social das classes médias urbanas. Arre égua, também somos um povo sentimental, que chora quando ouve certas melodias, assim como italiano.
Na historiografia da Música Popular Brasileira, que adora uma periodização adorada pela História, o samba canção tem dia, hora e ano de seu nascimento. Exagero meu, mas consta que surgiu no ano de 1928 quando Henrique Vogeler, um pianista carioca, compôs a música que passou para a posteridade com três nomes: “Linda Flor”, “Meiga Flor” e “Ai, ioiô”, e ainda começa com um “ Ai, Iaiá”. Consta igualmente a sua consagração pelo povo como “Ai, Ioiô”.
Na verdade, a letra desse samba casa com a idéia de romantismo na música, quando vai buscar elementos da linguagem do mundo rural, afirmando seus aspectos bucólicos. E haja “sofrê”, “oiá”, “oinho”, ‘inté’ e vai por ai...
Mas o samba canção tem um grande mérito. Deu a cancha para a bossa nova. Nos anos 50 o ritmo se encaixou perfeitamente no novo projeto musical. Uma beleza, que o diga João Gilberto!
Disse das encrencas pela afirmação do ritmo. Passei por uma dessas experiências. Menino, lá pelos fins de 1950, assisti, involuntariamente, um pega entre o famoso cantor cratense, Célio Silva, e um violonista que mais tarde vim saber tratar-se de Pedro Vinte e Um, habitué e tocador dos diversos cabarés da cidade. Não esqueço a fisionomia fechada e palavrões de toda magnitude de Célio Silva em cima de seu acompanhante. – Isto não é bolero, Pedro, isto é samba canção! Sabe o que é samba canção, porra? Vozeirão na música, vozeirão agudizado pela cachaça na direção do cada vez mais encolhido mestre Pedro Vinte e Um.
O samba canção no COMPOSITORES DO BRASIL desta quinta. Vamos aproveitar, na primeira e segunda parte, a sequencia levantada pelo eminente crítico e músico Tárik de Sousa, com 24 dos melhores samba-canções de todos os tempos.
AI, IOIÔ, de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luis Peixoto com Araci Cortes
SAIA DO CAMINHO, de Custódio Mesquita e Ewaldo Ruy com Aracy de Almeida
SEGREDO, de Herivelto Martins e Marino Pinto com Dalva de Oliveira
NERVOSS DE AÇO, de Lupicínio Rodrigues com Paulinho da Viola
CANÇÃO DE AMOR, de Chocolate e Elano de Paula com Elizeth Cardoso
FOLHA MORTA, de Ary Barroso com Jamelão
DUAS CONTAS, de Garoto com Maria Creusa
NÃO DIGA NÃO de Tito Madi com Tito Madi
MARINA, de Dorival Caymmi com Dick Farney
NINGUEM ME AMA, de Antonio Maria e Fernando Lobo com Nora Ney
SE VOCÊ SE IMPORTASSE, de Fernando Cesar com Doris Monteiro
MOLAMBO, de Jaime Florence e Augusto Mesquita com Rosa Passos
Quem ouvir verá!
Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri
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Quintas-feiras, de 14 às 15 h.
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Direção Geral, Dr. Geraldo Correia Braga
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