Se houvesse um monte Rushmore no Brasil, o rosto de Luiz Inácio Lula da Silva estaria agora sendo esculpido na rocha. Na pedra verdadeira, foram gravadas as imagens dos quatro maiores líderes da história americana: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. No Brasil, só dois ex-presidentes – Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek – ocupam papéis míticos no imaginário nacional. Agora, há mais um. E ele, Luiz Inácio, conseguiu entrar no seleto clube unindo o que seus antecessores tinham de melhor: a visão social e o espírito desenvolvimentista. Getúlio, nosso primeiro “pai dos pobres”, até hoje é amado porque incluiu na agenda política um agente antes excluído: o trabalhador. JK, por sua vez, foi o presidente que fez o brasileiro perder seu complexo de vira-lata e acreditar na própria capacidade de realização. Lula tem traços de ambos. Foi o presidente da inclusão social e também aquele que despertou o “espírito animal” dos empresários, que voltaram a acreditar no futuro e a investir. O resultado: um ciclo de oito anos que se encerra com crescimento do PIB de quase 8%. A vida útil de um mito é determinada pela história. Mas o presidente operário tem tudo para durar mais tempo no coração dos brasileiros do que Getúlio e JK. Sobre o primeiro, haverá sempre a mancha da ditadura implantada no Estado Novo. Sobre o segundo, o peso do desajuste fiscal e da inflação semeada pela construção desenfreada de Brasília. Lula conquistou os seus 80% de popularidade em plena democracia – e teve a sabedoria de rejeitar um terceiro mandato, que poderia colocá-los em risco. Para completar, controlou a inflação e reduziu a dívida pública. Erros, tropeços, bravatas, escândalos... nada disso terá muito peso no balanço final. A lembrança será sempre a do “Lulinha paz e amor”. E ele, que a partir de agora passará a dar nome a avenidas, escolas e creches em várias metrópoles brasileiras, só terá uma “desvantagem” em relação aos dois outros mitos: a ausência de uma morte trágica. O suicídio de Getúlio, em agosto de 1954, e o acidente automobilístico de JK, em 1976, até hoje questionado, ajudaram a elevar os dois ex-presidentes à categoria dos mártires. Lula, um homem feliz e sem inimigos, tem tudo para levar uma existência pacata até o fim dos seus dias. Tempo, ele terá de sobra depois de 31 de dezembro, como acontece com todo ex-presidente. A diferença, no caso de Lula, é que seu verdadeiro espaço cronológico será o da eternidade.
Leonardo Attuch - é articulista revista Isto é.
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