TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 10 de setembro de 2011

as zombeteiras

A verdade é que não penso na morte.
A morte é um caso esquecido.
Já teve seus dias de fama.

As marcas rosadas da faca de cortar pão
no meu pulso é um retrato claro
do tempo em que ela
dava as cartas.

Agora só tenho duas covinhas nas bochechas.
E mesmo que eu pouco sorria são visíveis.

Essa estória de covinhas
foram certas andorinhas
que me iludiram.

Uma dizia pra outra,
"olha, coisa linda
quando o poeta sorri"

A outra completava,
"meu deus, que covinhas
delicadas e sensuais"

Para um cara solitário feito eu
que não acredita em alma gêmea

nem em metade de laranja predestinada
nem em formiga gigante de três olhos

ter diante de si
duas espetaculares
e maravilhosas andorinhas

sussurrando aos ouvidos
que tenho duas covinhas

evidente,
acabei acreditando.

E de fato tenho
duas covinhas.

Mas só quando levanto os braços
e vejo uma covinha em cada axila.

S'eu fosse uma mulher vaidosa faria cirurgia plástica.
Extraía essas covinhas das axilas e pregava no rosto.

As minhas andorinhas são umas sacanas.
Mentem pra burro e ainda se irritam
quando retruco, "são seus olhinhos
de mr. magoo".

Levantam-se da cama
e deixam o cigarro aceso .

Um comentário:

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Grande Poeta. Saudades amenizadas agora por seus poemas.
Grande abraço.