TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

bodas de alabastro

Mistério envolve o escorpião.
Ele não envelhece.

As formigas percebo de longe
pelo olhar fundo e antenas flácidas.

Nas cigarras reconheço pela voz.
No meio de uma ária tossem,
tossem muito.

Os elefantes é facílimo observar sua velhice.
Franzem o cenho, separam-se da manada,
seguem um caminho obscuro
e somem.

Os pombos quando envelhecem
tropeçam nos cadarços
dos seus tênis nike
desbotados.

[todo pombo jovem
tem um nike vermelho
tinindo nos pés]

As andorinhas é simples.
Ficam sérias, aliás, seríssimas.

Iniciam um tal de tricotar uma colcha
que não termina nunca
sempre sozinhas
e sisudas.

O papagaio quando começa a envelhecer
parte para um estudo laborioso entre
aramaico e chinês.

Agora o escorpião coisa alguma
indica seu envelhecimento.

Continua o mesmo sujeito desconfiado,
sacana, amoroso, ciumento, misterioso.

Já me dediquei muitas horas de um dia,
muitos dias de um mês, muitos anos
de uma década, quase
toda uma vida

tentando encontrar um vestígio
um sinal sequer da sua velhice.

O escorpião não envelhece.
Não envelhece mesmo.

As luzes neons pelo seu corpo
se tempo chuvoso ou debaixo
do deserto brilham
e nunca cessam.

Só não sabem nadar
nem andar de bicicleta.

Mas isso é um detalhe.
Eu também não sei
nem uma coisa
nem outra

no entanto, envelheço,
envelheço pra chuchu.

Um comentário:

lupin disse...

domingos, belo poema. que de tantos bons que você tem já nem espanta mais. apenas delicia.