TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

credo

Triste quando alguém nos detesta.
Torce o nariz e franze o cenho.

Triste quando alguém nos odeia.
Muda de calçada e foge da praça.

Pensa em nos assaltar
e nos matar na esquina.

Pensa em pôr nossa fotografia
debaixo do ninho de uma coruja,

uma coruja cega e manca
em noite de lua cheia.

Aterrorizante quando alguém
planeja nossa morte.

Testa veneno em camundongos,
compra uma arma de traficante.

Suo frio só de pensar nas artimanhas diabólicas
que um estranho nutre mentalmente sonhando
com a nossa desgraça.

Triste e patético quando alguém se desvencilha
do nosso abraço e prefere pular do desfiladeiro.

É tão triste quando alguém que nunca nos viu dormindo
nem chorando nem atormentado com a própria sorte
ainda tenta nos esfolar como se esfola um bode.

Triste quando alguém não vai com a nossa cara.
E pede ao vizinho o telefone da polícia.

E pega no nosso pé.
E enche nosso saco.

É triste, meu deus
quando o santo de alguém
não bate com o nosso arcanjo.

É bem mais triste, confesso,
quando esse alguém consegue
incutir em nossa alma tal tristeza.

Ou essa vingança,
uma vontade inebriante
de roubar da mão
do carrasco
a lâmina.

É triste ver a cabeça do nosso inimigo
rolando escadaria abaixo com os olhos abertos.

São Jorge me proteja
e São Benedito me prepare
um cafezinho quente na sua choupana.

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