Quando temos muitas propostas de soluções para um mesmo problema, dada a dispersão das propostas, poderemos não ter nenhuma. No entanto, quando temos algumas propostas fortes e consistentes, alguma proposta pode dar caminho para o futuro. Ao desenvolvê-la no caminho do futuro esta proposta vencedora sofrerá modificações circunstanciadas pela realidade. Se ela tentar seguir um caminho dogmático, passando um rolo compressor sobre a realidade, irá se esfarelar por rigidez. De qualquer modo o caminho dogmático nem sempre é próprio da proposta, por vezes forças externas de modo estratégico provocam os agentes da proposta a ponto que eles não tenham alternativas de adaptação à realidade. De modo resumido tem sido o que ocorreu na história desde o renascimento, o desenvolvimento da razão, da ciência e do capitalismo.
No Brasil existem duas propostas políticas em prática. Ambas nacionais, com conteúdos programáticos diferentes, com leituras da realidade distintas e com alianças estratégicas dentro e fora do país de natureza própria. Uma proposta tem o núcleo político organizado por uma aliança histórica entre PSDB/DEM/PPS e agora possivelmente em disputa como o novo PSD e a outra proposta formada historicamente pelo PT/PC do B e mais o PMDB e outros partidos como o PDT e o PSB.
Para facilitar o texto vou denominar à primeira proposta de Neoliberal/Ortodoxa e à segunda Progressista/Social. Estas duas propostas galvanizam os discursos do pós guerra que se diferenciavam entre direita, para a primeira proposta e esquerda para segunda. Quando digo galvanizam explico que a história está em movimento e os termos direita e esquerda como são compreendidos estão modificados pela mudança histórica. Os Neoliberais/Ortodoxos se aliam com setores do capitalismo brasileiro internacionalizado, especialmente pelos ganhos com as privatizações, com amplas margens do agronegócio, com setores da classe média tradicional, banqueiros nacionais e internacionais e com alianças estratégicas externas especialmente com lideranças dos EUA e Europa. Os Progressista/Social se aliam com os capitalistas nacionais com pretensões a um protagonismo maior no mundo, com setores dos trabalhadores organizados, com movimentos sociais organizados, setores da pequena agricultura e tem alianças externas com lideranças e países emergentes como ele.
Os Neoliberais/Ortodoxos apresentaram um programa político de enterrar o que chamaram de era Vargas, com flexibilização dos direitos trabalhistas, regulação da vida social realizada pelo mercado, reforma e privatização da previdência, fim de todas as empresas estatais e uma forte aliança com as corporações multinacionais para dali extrair riquezas na oportunidade do que chamavam globalização inevitável. Algumas marcas políticas este pensamento tem: horror ao papel do Estado, desestímulo ao funcionalismo público, políticas de transferência de renda, mercado regulado, movimentos sociais e partidos de esquerda.
Os Progressistas/Sociais praticam governos em que os valores da era Vargas não são enterrados, mas são sensíveis à mudanças em alguns pilares desta era; aceitam o desenvolvimento capitalista, praticam a regulação do mercado, especialmente no mundo financeiro e acreditam num caminho próprio para inserção comercial no mundo atual. As marcas políticas desta proposta não vou repeti-las, pois são exatamente o contrário daquelas anunciadas para o outro grupo.
Não precisaria dizer o que direi, pois acho que ficou claro que as duas propostas são consistentes historicamente. Acontece que elas não se ancoram apenas em discursos de suas lideranças ou em algumas manifestações programáticas, ambas têm instituições por trás delas, formulando e atualizando os dados da realidade para se apoiarem. A proposta Neoliberal/Ortodoxa tem muitos acadêmicos propondo, existem setores predominantes da mídia corporativa formulando e repetindo o mantra todos os dias, além de vários institutos como a Casa do Saber no Rio de Janeiro e o Instituto Milenium em São Paulo. A proposta Progressista/Social igualmente possui setores importantes da academia, como estão no governo federal os órgãos fazem “paper” que acentuam suas teses e vários institutos e fundações trabalham com suas teses.
Bom ainda tem a internet com sua prática subversiva e agressiva. A riqueza aí é muito grande e as duas propostas estão plenamente contempladas. De vez em quando alguém quer a prisão de ministro, chama todos os adversários de ladrões e mostram os papers dos seus institutos como se fossem a última palavra da sabedoria humana. A guerra de trincheiras, igual àquela da primeira guerra mundial, se reproduz na internet entre os dois grupos. O que não falta é cachorro doido dando mordida de um lado e outro da trincheira.
Uma pergunta. Tem espaço para outras propostas virem para o palco político nacional? Tem. Algumas mais à direita da direita e outras mais à esquerda da esquerda. Dificilmente haverá uma que ocupará o centro político, pois ambas as propostas hegemônicas no momento político já têm suas bases formadas em partes do centro político. O PSD, por exemplo, no máximo herdará a herança da proposta Neoliberal/Ortodoxa com alguma revisão. Por que penso na radicalização à direita ou à esquerda? Em razão da crise econômica Americana e Européia que pode evoluir para uma crise mundial mais aprofundada. Só para não se imaginar tudo no campo teórico: relatório desta semana aponta que a população americana abaixo da linha de pobreza está crescendo, especialmente nos outrora subúrbios da promessa de uma vida feliz de consumo. Todas as radicalizações (de direita ou esquerda) tiveram o campo fértil da miséria como nascedouro da proposta.
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