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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Xico Sá , o greco-cratense

Mais estranho que a ficção III: O analfa político

Deveria volver aos 17 e ser um comuna à moda Brecht (bem aí na foto) por excelência. É o que a bola da realidade pede.

Como hoje é quinta, porém, a clássica quinta dos infernos, é dia de mais um episódio da série “Mais estranho que a ficção”, justíssima homenagem semanal ao mr. Chuck Palahniuk e o seu livraço homônimo de crônicas.

Palahniuk, para quem não lembra, é o cara que escreveu “Clube da Luta”, livro porreta filme idem. Sem mais lengalenga, direto no miocárdio, vamos nessa, sempre tentando falar aos corações aflitos:

I- O Brasil, SOS, o Brasil, SUS, o Brasil... é o único país do mundo onde a pequena burguesia, também conhecida como burguesia-gabiru, carece politizar o câncer de um ex-presidente para discutir saúde pública.

II- O pior analfabeto político, título de poema do velho Brecht, é aquele capaz de politizar a multiplicação desordenada das células.

III- Não é preciso ler Norberto Bobbio (* Turim, 18 de outubro de 1909 + Turim, 9 de janeiro de 2004) para saber que não há doença grave de direita nem de esquerda.

Doença leve, óbvio, é de centro, como resfriado e ressaca moral de colunista político ou comentarista de redes sociais.

IV- Meu particularíssimo respeito às doenças graves devo tão-somente à educação e solenidade adquirida na infância greco-cratense. Até a palavra câncer era proibida. Falava-se “aquela doença” e outros paliativos lacanianos.

V- Mas já que resolveram botar a mãe e a ideologia no meio, politizemos de vez a dengue, a varíola, a febre amarela, a caxumba (na minha terra é papeira), a febre do rato, a peste bubônica, o istampô-calango e outras febres da selva.

VI- Real-politik! Donde o mosquito da dengue, por exemplo, é municipal; a gritaria é estadual e o remédio da Sucam é federal.

VII- Vamos politizar, com todo panfleto & fúria, as mortes no trânsito, a poluição atmosférica, o colesterol.

VIII- Sou repórter do tempo em que câncer e suicídio não eram notícia, seus mal-educados. Eram respeito e silêncio.

IX- Mas sobretudo sou do tempo de hoje, entonce, bora ao bom-combate. Viva o contraditório, o esperneio geral da nação, esculhambem, mas, pô, vocês não tiveram pais ou simplesmente ainda não fizeram o primeiro exame de próstata?

X- Que vossos diagnósticos nunca sejam positivos, amém.

Escrito por Xico Sá às 23h23

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