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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O fundamentalismo de cada dia

O fundamentalismo de cada dia 

por Daniel Sottomaior para Folha em resposta a
Integrante da Opus Dei critica o ‘fundamentalismo ateu’ brasileiro 



"Segundo Ives Gandra, em recente artigo nesta Folha ("Fundamentalismo ateu", 24/11), existe uma coisa chamada "fundamentalismo ateu", que empreende "guerra ateia contra aqueles que vivenciam a fé cristã". Nada disso é verdade, mas fazer os religiosos se sentirem atacados por ateus é uma estratégia eficaz para advogados da cúria romana. Com o medo, impede-se que indivíduos possam se aproximar das linhas do livre-pensamento.

É bom saber que os religiosos reconhecem o dano causado pelo fundamentalismo, mas resta deixar bem claro que essa conta não pode ser debitada também ao ateísmo.

Os próprios simpatizantes dos fundamentos do cristianismo, que pregam aderência estrita a eles, criaram a palavra "fundamentalista". Com o tempo, ela se tornou palavrão universal. O que ninguém parece ter notado é que, se esses fundamentos fossem tão bons como querem nos fazer crer, então o fundamentalismo deveria ser ótimo!

Reconhecer o fundamentalismo como uma praga é dizer implicitamente que a religião só se torna aceitável quando não é levada lá muito a sério, ideia com que enfaticamente concordam centenas de milhões de "católicos não praticantes" e religiosos que preferem se distanciar de todo tipo de igrejas e dogmas.

Já o ateísmo é somente a ausência de crença em todos os deuses, e não tem qualquer doutrina. Por isso, fundamentalismo ateu é um oximoro: uma ficção ilógica como "círculo quadrado".

Gandra defende uma encíclica papal dizendo que "quem não é católico não deveria se preocupar com ela". No entanto, quando ateus fazem pronunciamentos públicos preocupa-se tanto que chama isso de "ataque orquestrado aos valores das grandes religiões".

Parece que só é ataque orquestrado se for contra a religião. Contra o ateísmo, "não se preocupem".

Aparentemente, para ele os ateus não têm os mesmos direitos que religiosos na exposição de ideias.

A religião nunca conviveu bem com a crítica mesmo. Já era hora de aprender. Se há ateus que fazem guerra contra cristãos, eu não conheço nenhum. Nossa guerra é contra ideias, não contra pessoas.

Os ateus é que são vistos como intrinsecamente maus e diuturnamente discriminados pelos religiosos, não o contrário. Existem processos movidos pelo Ministério Público e até condenação judicial por causa disso.

O jurista canta loas ao "respeito às crenças e aos valores de todos os segmentos da sociedade", mas aqui também pratica o oposto do que prega: ele está ao lado da maioria que defende com entusiasmo que o Estado seja utilizado como instrumento de sua própria religião.

Para entender como se sente um ateu no Brasil, basta imaginar um país que dá imunidade tributária e dinheiro a rodo a organizações ateias, mas nenhum às religiosas; que obriga oferecimento de estudos de ateísmo em escolas públicas, onde nada se fala de religião.

Um país que assina tratados de colaboração com países cuja única atividade é a promoção do ateísmo; cujos eleitores barram candidatos religiosos; que ostenta proeminentes símbolos da descrença em tribunais e Legislativos (onde se começam sessões com leitura de Nietzsche) e cuja moeda diz "deus não existe".

E depois os fundamentalistas que fazem ataque orquestrado somos nós."

FONTE: Paulopes
(Leia mais em http://www.paulopes.com.br/2011/12/sottomaior-responde-gandra.html#ixzz1fxwfac6B)

4 comentários:

José de Arimatéa dos Santos disse...

Acredito em Deus e acho necessário e importante o estado laico. O que deve existir é a pluralidade de ideias e crenças seja qual for. Essa é a verdadeira democracia e o Brasil caminha para um patamar no mundo que a convivência entre religiosos, ateus e tudo mais tem que ser o mote.
Defendo até a não existência do ensino religioso nas escolas.

Unknown disse...

Concordo contigo.
Da crença de cada um, cada um cuida. Do direito de todos, todos nós devemos cuidar.
Deve-se garantir o direito de crença e também de não-crença.
Sobre o texto em si, foi apenas uma defesa, já que uma das minorias mais sem espaço é a dos ateus.

jose nilton mariano saraiva disse...

O sectarismo e a intolerância são a marca registrada do Ives Gandra e seguidores.

jflavio disse...

perfeito o artigo. nesse país dizer que não se acredita em Deus é uma injúria. o próprio Gandra nas entrelinhas vaza fundamentalismo. cada um pode acreditar em Papai Noel ou no pai da mata, deveriam apenas permitir que os demais não acreditassem e principalmente não fossem obrigados a comprar os presentes do papai Noel e o cigarro da Caipora.