Na metade dos anos 90 estive numa Missão do Itamaraty
(Agência Brasileira de Cooperação – ABC) em Angola e Moçambique para organizar
uma cooperação com aqueles países no esforço de consolidar a paz na região. Em
Angola a lembrança mais forte que tenho é do estrago que as minas terrestres
faziam sobre a população rural.
Nas ruas de Luanda, especialmente na região central, víamos
centenas de pessoas mutiladas em decorrência destas minas. Tais minas
terrestres são tão criminosas do ponto de vista dos direitos humanos que se de
fato funcionasse um tribunal democrático da humanidade já deveria ter condenado
Chefes Políticos, Militares de Alta Patente e a Indústria Produtora desta
máquina de morte.
Os EUA e seu governo seriam o primeiro da lista apenas com o
que fizeram no Laos: lá eles lançaram mais de 78 milhões de munições do tipo
durante os conflitos no sudeste asiático. O pobre Laos ganha a medalha de ouro
do país mais minado do mundo. E reforcemos a idéia: as minas estão nos campos,
onde vive, trabalha e se sustenta a população rural. Mas as minas poderão estar
nos campos que formam os atuais pontos de visitação do turismo ecológico, do
turismo desbravador de paisagem. No caso a paisagem da morte.
Mas a América Latina também teve o seu solo com alvo de tais
munições mutiladoras e mortais: Chile, Peru, Colômbia, Equador, Argentina,
Bolívia, El Salvador e Honduras. A Nicarágua apenas recentemente terminou o seu
trabalho de desminagem em seu território e, diga-se de passagem, é um trabalho
altamente perigoso e de custo altíssimo. Na maioria destes países o ambiente a
justificar estes atos criminosos de implantar minas terrestres foi de algum
modo decorrente da guerra fria e da ação internacional dos EUA.
No Chile as minas foram postas nas fronteiras do extremo
norte, especialmente junto ao Peru, no extremo sul e até mesmo na região
central do país. Augusto Pinochet com sua ditadura para dar ventura aos Chicago
Boys implantou estas desgraças e até hoje estão lá a lembrar da barbárie
ideológica e imperial.
As minas não perdem validade e permanecem ativas quase que
pela eternidade. Mas tem um fator mais chocante ainda. Movimentações do solo,
por chuvas, tufões, ciclones, desmoronamentos, terremotos, carregam a minas
para outras localidades, gerando mais insegurança num raio geográfico amplo.
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