Vínhamos pela BR-471 de Chuí para Pelotas quando avistamos, na
estrada quase vazia de automóveis, placas indicando um trecho cuja velocidade
mínima seria de 40 km por hora. Perigo de animais selvagens atravessando a
pista. Estávamos na região da Reserva Ecológica do Taim, uma estreita faixa de
terra entre o Oceano Atlântico e a Lagoa Mirim, nos municípios de Rio Grande e
Santa Vitória do Palmar.
Rio de Janeiro, junho de 2012, as ruas cheias como o seu
dia-a-dia de veículos explodindo fumaça pelo escapamento. O noticiário
igualmente tomado de notícias da Rio +20. Pelas ruas da cidade, a cada esquina,
encontro da espécie humana grunhindo suas cordas vocais em múltiplos idiomas.
A consciência ecológica, verde, conservacionista,
sustentável ou que nome venha a ter é ampla nesta Conferência das Nações. E
pensar que tudo começou no turbilhão que jogou o mundo entre os anos 60 e 70.
Quando a consciência planetária se imiscuiu na cultura e na política. A
consciência que igualmente esteve no movimento hippie, no Rock and Roll, na
Guerra do Vietnã e a resistência a ela, nos movimentos estudantis pelo mundo
inclusive o Paris de 68 e além das guerras de libertação colonial na África e
na Ásia.
A Reserva Ecológica do Taim faz parte da planície costeira
que caracteriza o extremo sul do Brasil. Os banhados do Taim, como é seu nome
original se compõem por praias lagunares, marinhas, lagoas, campinas, pântanos
e dunas. Ali vive e se formou um rico ecossistema composto por animais e
plantas. João de Barros, Tuco-Tuco, Tartarugas, Capivaras, Jacaré-do-Papo-Amarelo,
Ratão-do-Banhado, Orquídeas, Bromélias, Cactos, Figueiras, Juncos e Água Pés.
No Forte de Copacabana se montou uma estrutura enorme onde os
militantes ecológicos, visitantes, curiosos e representações populares e do
mundo científico engajado se mistura como uma Torre de Babel de línguas. No RioCentro
as delegações penam em discordâncias e concordâncias com um longo texto que
será retificado pelos Chefes de Estado.
A primeira vez que se tomou uma consciência ecológica do
ponto de vista político e como uma consciência na cultural mundial, aconteceu
por fatos cumulativos e com a Conferência de Estocolmo, ou Conferência da ONU
sobre Meio Ambiente Humano começando em 5 de junho de 1972 (apenas 40 anos). O
mundo estava perplexo com os efeitos da contaminação por venenos no solo, nas
águas e nos animais oriundos de processos industriais e da agricultura. Os testes
com bombas atômicas deixavam uma rastro letal de Estrôncio-90 no meio ambiente.
A Baleia Azul tinha sido tão perseguida que estava à beira da extinção.
Entramos na velocidade indicada nas placas sobre um aterro
que atravessa aproximadamente 20 Km da reserva do Taim e se descortina uma
paisagem belíssima ladeada pelos pampas, a criação de gado e grandes grupos de
capivaras de um lado e outro do banhado. Enquanto o motor do carro nos
transportava vinha-me a lembrança da grita do Pasquim e do Coojornal do Rio
Grande do Sul denunciando a construção da BR-471 sobre a reserva do Taim,
expondo suas obras e uso ao desastre ecológico.
O Presidente Obama, a Chanceler Merkel e David Camerom não
se farão presentes à cúpula dos Chefes de Estado da Rio +20. Num desânimo estrutural
e na contramão da necessidade de se repensar a marcha da humanidade, estes
líderes das nações mais intensas em consumo do planeta, não virão, permanecerão
onde estão. Numa atitude sempre evasiva nestes fóruns mundiais, mas quando se
trata de defender o meramente econômico com base em moeda pura, as grandes
nações nunca se escondem. Estão lá para fazer os acordos entre si, à margem da
maioria da humanidade.
Na Primeira Conferência a de Estocolmo de 1972, aquela que
funda o movimento verde, o atual formato já estava pronto: a sociedade civil, cientistas
e chefes de estado. Indira Ghandi, premier da Índia disse: “A minha percepção é de que pessoas que não
se entendem com a natureza são cínicas em relação à humanidade e não estão
confortáveis consigo mesmas”. A partir dali o assunto entrou na agenda da
humanidade e o Brasil, por sua cidade Rio de Janeiro, se tornou uma referência
fundamental nas principais conferências até aqui.
Enquanto o nosso carro avançava no aterro sobre o banhado do
Taim, aquelas frases de efeito na grita contra a truculência da ditadura que
apontara o dedo no mapa para aquela região e ali plantara a estrada que
violentava a natureza. Tudo que lera no Pasquim e no Coojornal fazia sentido:
um, dois, três, quatro, mais outro, outro e outros mais corpos de capivaras
jaziam esmagados a se confundir com o asfalto da rodovia.
Hoje pela manhã o Rio amanheceu azul após tantos dias de
chuvas. Amanheceu azul com uma matriz da floresta da tijuca a ladear o
intrincado de ruas. Tudo de ruim que disseram das cidades aqui acontece.
Aconteceu e acontecerá. Mas não existe esperança que não sejam sobre os eventos
em acontecimento e por isso pode-se mudar o rumo da história. Pelo fato pura e
simples do que acontece continuamente é de onde se transforma.
Antes de terminar é impossível esquecer do livro “Primavera
Silenciosa” de Rachel Carson, sistematizando os efeitos do desenvolvimento e do
progresso sobre o meio ambiente. Assim como José Lutzemberg a abrir a
consciência ecológica no Brasil após anos de trabalho na BASF quando sentiu os
efeitos danosos dos agrotóxicos sobre os agricultores. E aqui uma frase dele de
1972 a primeira vez que li sobre o assunto numa entrevista que ele deu acho que
para o Pasquim ou outro jornal alternativo da época feito O Movimento ou
Opinião: “Se não conseguirmos, em pouco
tempo vencer a piromania nacional, estará nosso país a transformar-se, durante
a vida dos jovens e crianças de hoje, em deserto e serão indescritíveis as
calamidades que sofreremos. A provável e talvez já desencadeada inversão
climática tornará impossível a recuperação, mesmo a longo prazo.” Lutezemberg
foi um dos primeiros a falar no aquecimento global com esta frase.
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