Vitória tem quatro anos e adora programa infantil. A geração
dela está inundada de personagens de contos de fada redivivos no qual abundam
reis, rainhas e princesas. Já tem até DVD em que a famosa boneca barbie vai
para uma escola de princesas e na escola é só maquiagem, aprender a se curvar,
enfim etiquetas da realeza. Se algum dia Vitória gostar de vê a coroação do
futuro rei da Inglaterra ou os noventa anos do reinado de Elizabeth II, não tem
por que estranhar: é isso mesmo que ela está vendo. Ela e toda a geração dela.
Por isso compreendo a presença de um milhão de ingleses espalhados
na beira do Tâmisa com a finalidade de assistir ao desfile do barco real
carregando a detentora de 60 anos de reinado. Eles não sabem bem para que serve
a realeza inglesa, mas que diverte lá isso diverte. É um show ou uma escola de
princesa da barbie.
Não há um grande problema com o circo e a diversão, mas é um
grande problema não se entender o quê foi a Inglaterra e seu império para o
Brasil. Desde comboiar Dom João VI até o Rio de Janeiro, e aqui abrir os portos
para criar um canal de exportação de matérias primas para a crescente
industrialização imperial. E não me venha com papo furado de que os ingleses
trouxeram a estrada de ferro, os bondes, a energia elétrica entre outras
bondades da sua produção porque tudo foi
às custas do sacrifício dos brasileiros.
Os ingleses, se diga os bancos ingleses, seu comércio
monopolista, sua armada violenta literalmente têm responsabilidade sobre o
atraso relativo da industrialização brasileira. Sabotaram todas as tentativas
de se criar uma verdadeira indústria por aqui, basta ler o livro sobre o Barão
de Mauá, traziam o trem e nós pagávamos caríssimo pelo seu carvão. O trem não
foi apenas para passageiros, era essencialmente o escoamento da produção do
café que ia para a bolsa de Londres. A geração de energia elétrica se dava com
o monopólio que multiplicava e sangrava a bolsa popular.
Se inventaram a penicilina, nos deram Shakespeare, o som dos
Beatles, mas levaram os nossos ganhos e garrotearam nossas iniciativas de
desenvolvimento nacional a ponto de atrasá-lo por mais de um século. Portanto
enquanto a comitiva desfilava os nossos olhos deveriam simultaneamente olhar
para o show e para o passado de um império que teve o seu apogeu com a bisavó
da Rainha Elizabeth II.
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