TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Fótons


A notícia da semana , amigos, diz respeito à caça de um bicho esquisito , vasqueiro , mais escondido que laranja de bicheiro e falcatrua de político. A mídia pipocou nos ares que tinham capturado o elemento escorregadio, nas Europas, onde foi armado  um alçapão que apelidaram de Acelerador de Partículas. Há já alguns anos,  perseguem o bicho que ninguém nunca viu, não se sabe o jeitão dele. Existem só fofocas e disse-me-disse em torno da estrovenga que carrega um nome estranho e pomposo: Bóson de Higgs. O Higgs foi o primeiro caçador que espalhou, mundo afora, a história sobre a existência desse bicho quase mitológico, parente da Caipora e  do Pai-da-Mata. O certo é que até o presente momento, a coisa parece mais potoca de caçador: ninguém trouxe o rabo do bicho, uma pena do gogó, uma foto, nada: só lero-lero.
                        Como, sempre, em toda Mitologia,a importância do  ser mitológico é vultosíssima. O Bóson, amigos, seria uma pequena partícula que deve existir dentro do núcleo do átomo. Ela serviria como uma espécie de cola para outras 12 partículas aí existentes e um tipo de mensageiro entre elas. Acredita-se que tenha provindo ainda do Big-Bang e seria responsável, na sua primariedade, por dar massa a todos os componentes do Universo. É , na realidade, uma possibilidade teórica, criada dentro de um modelo de Física Atômica que procura, desesperadamente, avançar na compreensão da intimidade da Matéria.De tamanho ínfimo e de uma instabilidades extrema -- rapidamente se transforma em energia-- sua captura é um desafio tremendo.  Há quarenta anos se busca confirmar a sua existência, nestes dias divulgaram-se evidências, embora ainda preliminares,  de que de fato existe. Seria como se tivéssemos capturado a Baleia acorrentada abaixo do altar de Nossa Senhora da Penha, aqui no Crato.  Dizem ter matado a cobra, mas ainda não mostraram o pau, nem o couro do ofídio.
                        Impressionante os avanços da Ciência nos últimos séculos. Conseguiu sobreviver em meio às trevas, à perseguição religiosa, à fé cega e à faca amolada. Degrau após degrau foi fundamentando a escada do conhecimento, tantas e tantas vezes usando como argamassa a cinza de cientistas queimados nas fogueiras da inquisição. A curiosidade, a desconfiança venceram as trevas da fé cega, das pseudoverdades inquestionáveis. A Metodologia Científica pouco a pouco foi substituindo crenças arcaicas, lendas, superstições  empurradas goela abaixo por  gerações e mais gerações de sacerdotes das mais variadas  Mitologias. Darwin reescreveu o Gênesis, a Medicina desmistificou as pragas como castigo divino, a Genética, a cada dia, substitui o sopro primal. Até do Apocalipse a Energia Atômica já se apoderou.
                                   Mais dia, menos dia, capturaremos, por fim, o Bóson de Higgs e teremos em mãos a semente primária donde tudo começou. O leitor pode até replicar que a Ciência não explica tudo, que ficam buracos imensos em toda teoria. Tudo bem, mas a Religião, amigos, explica bem menos. Sempre precisamos de alguns mistérios , como os da Santíssima Trindade ou similares e mais: acreditar, cegamente, em potocas bem mais cabeludas que as dos Bósons . Não vale perguntar, não vale questionar se não as espadas flamejantes nos aguardam para a expulsão do Paraíso.
                                   Percebo, no  entanto, que, se o Bóson , uma vez capturado, nos possa explicar muito da nossa presença física no Universo, falta-nos ainda descobrir uma partícula ( inexistente nos Livros Sagrados e nos Compêndios da Física) que nos desvende essa viagem fugaz,  etérea, profundamente emocional  e que ante a imensidão do Universo, tem a durabilidade de fóton do Bóson de Higgs: a Vida. 

J. Flávio Vieira
Recife

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