Rosemberg Cariry um exemplo de Secretário de Cultura Foto: Alexandre Lucas |
Por Alexandre Lucas
A Expocrato vem a cada ano sendo
alvo de críticas no que diz respeito a sua programação cultural. As
argumentações são justas e pertinentes diante das atrocidades de exclusão dos
artistas da região do Cariri num dos principais eventos regionais. É notório,
que esse evento público (privado) só serve para encher os bolsos dos
empresários das grandes bandas que fazem parte de um monopólio musical e das
produtoras.
Vale destacar que a concessão
para exploração privada do evento é publica e não estabelece critérios para que
seja garantida a diversidade musical e a inclusão dos artistas neste mega
evento.
O fato é que a Expocrato
tornou-se um bom negócio para poucos. Poucos estilos musicais, poucos artistas
do Cariri, poucos que lucram. Pouco desenvolvimento e rendimento para região,
do ponto de vista, de formação de platéia, afirmação de identidade e
diversidade cultural e de turismo cultural e sustentável.
O fato é que essa política do
“pão e circo” é recorrente em todo o Estado do Ceará e vem provocando uma
insatisfação generalizada por parte dos artistas ligados a música cearense que
vem perdendo espaço com políticas equivocadas como o “Férias no Ceará” (O
secretário de Turismo do Estado possivelmente nunca estudou nada sobre turismo
cultural e sustentável, se estudou nunca entendeu) e as descaradas inaugurações ou anúncios de
obras regadas pelas bandas ligadas ao monopólio da música ou seja as bandas que
estão a serviço da reprodução do machismo, da homofobia, da violência, da vulgarização
sexual, enfim da forma pela forma, que
agora tem o sustentáculo financeiro do Governo do Estado. Fato que só
nos faz lembra algo típico da política desenvolvida nos tempos dos coronéis,
aonde por qualquer motivo se fazia uma festa banhada através do desperdício de
recursos públicos.
O dinheiro gasto com esse “bom
negócio” (termo utilizado pela política desenvolvida pelo governo tucano de
Fernando Henrique Cardoso que considerava a “cultura como um bom negócio”)
possivelmente poderia ter proporcionado a circulação de grandes shows dos
cearenses para os cearenses potencializando a diversidade musical do nosso
povo, bem como poderia ter servido para a gravação de milhares de Cds, muitos
artistas tentam há anos conseguir o
mínimo de recursos para gravar o seu
trabalho. Já as bandas do tipo “chupa que é de uva” basta piscar os olhos para
fazer um “bom negócio”.
Essa postura assumida pelo
Governador é contrária a conjuntura nacional e estadual no campo das políticas
públicas para a cultura. Contraditória até mesmo com a política defendida e
executada pela Secretária de Cultura do Estado do Ceará, apesar das severas
criticas merecidas das ultimas gestões desta pasta.
Essa pratica despeita e rasga as
resoluções da constituinte cultural, das conferências municipais e estaduais da
Cultura. Será que o Governador nunca teve acesso as informações destes fóruns?
Será que ele desconhece as reivindicações dos trabalhadores da arte? Será que
ele sabe que nestes fóruns os cearenses defenderam o nosso patrimônio,
inclusive da música e do direito a diversidade musical? Acredito que sabe sim!
Mas enquanto isso prefere financiar a chacina do “jogaram uma bomba no cabaré”.
Esse modelo não deve servir de
exemplo para os municípios do Ceará. O Crato que recebe esse extraordinário
evento deve ter a sua programação musical pensada no sentido de atender outra
lógica, que ao meu ver seria a lógica da diversidade musical e da
sustentabilidade do setor musical cearense.
Lembro-me de uma experiência
exemplar que aconteceu no Crato na década de noventa do século passado quando a
Expocrato era administrada pela Secretaria de Cultura do Município e tinha a
frente nomes como Rosemberg Cariry, Cacá Araújo e Dane de Jade o que
possibilitou que a programação musical tivesse a alma e a efervescência da diversidade nordestina, aonde
o popular e o contemporâneo comungasse no mesmo palco, como aconteceu com os
Irmãos Aniceto e Hermeto Pascoal.
Enfim uni-vos contra a barbárie cultural e as produtoras
culturais mercenárias!
* Pedagogo, artista/educador, integrante do Programa
Nacional de Interferência Ambiental – PIA e do Centro Universitário de Cultura
e Arte – CUCA.
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