“Se eu falasse todas as línguas, as dos homens e as
dos anjos, mas não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou um címbalo que
retine.” Se como Paulo tivesse o Crato, Rio de Janeiro e Paracuru e não lhes
tivesse amor, era como uma paisagem lunar, sem cores e sem céu.
Este Rio que me faz rir apenas de olhar seu perfil,
mesmo que nas altas horas noturnas pouco iluminadas. Que hoje teve a maior
febre de verão de sua história. Foram 43 graus centígrados, com sensação
térmica encostada ali na fronteira dos cinquenta graus.
Este corpo de cidade que é tão belo que por vezes
no limite da exaltação só me falta dizer: mas que abuso de beleza! E teve
cinquenta graus de puro calor. E lembrar que a burrice da ditadura quis
censurar o filme do Nelson Pereira dos Santos, Rio 40 Graus, por entender uma
afronta ao “progresso” suposto pela arrogância.
Terra do samba, do funk, da matriz do rádio, dos
grandes auditórios, do cinema, da música e da política também. Uma linda cidade
a contemplar-se no espelho fosco da garoa paulistana e assim dizer a todos: sou
bela, mas não isenta do meu contraponto. Por isso mesmo é bela: a pureza do ser
é a abstração do nada. É preciso negar a beleza para que ela seja contemplada e
compreendida.
Quando tudo é arrasador na face sul virada para o
mar e a Guanabara, tudo se surpreenderá nas encostas da Tijuca, a planície do
Andaraí e as montanhas com seus picos cobertos de florestas tropicais. O tão
malfado e calorento Bangu tem uma formação rochosa de realçar o relevo das
encostas amenas dos arredores da Serra do Mar. E toda a Zona Oeste excede em
lagamares, baias, planícies, montanhas e mares.
Mas tome as ruas tortas. A trama que engana assim
como os grandes ramais e a capilaridade de ruelas que desenham bairros e
favelas nos morros. E ande pelas calçadas, com o olhar pedinte aos casarões
seculares, aos prédios de várias épocas, aos bares que reúnem numa coletividade
a individualidade de milhares de apartamentos.
E para melhor lhes dizer desse amor, esta coisa
difícil de narrar, ainda mais de escrever com esta belíssima na Cadência do
Samba do Pernambucano Luiz Bandeira. Mais um poeta de outras terras a cantar o
Rio de Janeiro.
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