TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Gol de Bicicleta



J. Flávio Vieira

                “Quando eu vejo um adulto em uma bicicleta,
eu não perco a esperança na raça humana.”
H.G. Wells

                               Desde as mais priscas eras , o homem buscou, desesperadamente, maneiras de ampliar seus horizontes de mobilidade.  Um bípede perdia de goleada para as outras inúmeras espécies que com ele disputavam os alimentos. Além de tudo, num mundo tão hostil e sujeito às mais variadas alterações climáticas, o poder de deslocamento fazia-se diretamente proporcional às condições de sobrevivência. A invenção da roda levou o Homo sapiens a um pedestal até então inimaginado. E consta que há 2500 anos atrás, o chinês  Lu Ban inventou um dos meios de transporte mais populares da nossa história: A bicicleta. No ocidente , o Barão germânico Karl Von Drais, no início do Século XIX, montou o primeiro rudimento da Bicicleta moderna : o Celelífero que foi, pouco a pouco, sendo aperfeiçoado e já em 1829 se registrou a primeira Corrida de Bicicleta de que sem tem notícia. No Brasil , a novidade chegou no finalzinho do Século XIX , trazida pelos imigrantes europeus de Curitiba.  A paulistana Veridianada Silva  Prado construiu o primeiro velódromo do país, em São Paulo, na  Praça Rosevelt, na Consolação.  Até então, os veículos eram importados, na década de 40 , do século passado, no pós guerra, começamos , por aqui, a fabricação das nossas próprias bicicletas.
                                   Aqui noeram importados, or aqui, a fabricaçerio veleta de que sem tem notorizontes de mobilidade.  Crato,  observando as fotos antigas, não se percebe como freqüente a presença da bicicleta entre nossos hábitos cotidianos. Possivelmente, nossa geografia acidentada, com terrenos cheios de vales e depressões, não tenha propiciado uma disseminação maior desse meio de transporte, com exceção, talvez, dos moradores da Chapada do Araripe, mesmo assim com um uso mais utilitarista do que esportivo.  Após a nacionalização da produção,  já no pós-guerra , a acessibilidade da bicicleta possivelmente se tornou maior . Desde 1948 , temos a Prova Ciclística  de 21 de Junho aqui na nossa cidade. A informação é do nosso  Huberto Cabral. Se há dúvidas, amigos, se foi o Pedro Álvares  quem descobriu o Brasil, não resta qualquer discussão a respeito de uma outra verdade histórica: foi um outro Cabral, o Huberto, que descobriu e vem descobrindo o nosso Crato. Nos anos 60, houve um grande impulso no ciclismo entre os jovens de minha geração, aqui , possivelmente,  pela passagem de um famoso ciclista de Petrolina  – Souza Filho—que veio fazer uma prova de resistência na Praça da Sé, encantando e influenciando toda garotada.
                                   Nos últimos anos, tem se percebido uma grande população de ciclistas esportivos na nossa região. A Chapada do Araripe, nos fins de semana, se vê apinhada de um sem-número de esportistas das mais variadas camadas sociais, com  bicicletas e acessórios  modernos. Importante lembrar que esse novo pico  na disseminação da modalidade esportiva entre nós, começou por volta de 1986. Alguns jovens cratenses – Ernesto Saraiva, Hercílio Figueiredo, Rui Borges --  criaram   a atividade de “Moutain  Bike” , imantados de uma natural consciência ecológica. Preocupavam-se com a devastação da nossa Chapada e da necessidade de educar os caririenses quanto à necessidade diuturna de preservação. O movimento cresceu, ganhou adeptos e, em 1996, por fim,  já com o poder pensante de outros sócios beneméritos : Ricardo Borges, Ney Reny, Ildemário Júnior, Newton Machado, Ricardo Rocha, Alziane Diógenes, Cézar Bandeira, fundaram a “Eco-Biker´s”. A entidade tem, como logomarca , uma Flor de Pequi e, hoje, congrega em torno de 1300  esportistas. Eles mostram, com orgulho, os resultados de um trabalho espontâneo e profícuo : o Tricampeonato Cearense de Moutain Bike 1999/2000/2001 e o Bicampeonato  Nordestino 2002/2003. Atualmente,  a entidade luta pela implementação da Semana da Bicicleta em nosso município entre 16 a 22 de Setembro, culminando, pois, no Dia Mundial sem Carro; além da promulgação da Lei  2844/13 : a chamada Lei das Ciclovias.
                                   Como parece ter se tornado uma regra nesse mundo, as grandes iniciativas  partem, geralmente, de pessoas simples e visionárias. Sem os anteparos das convenções, dos liames políticos, das ganâncias de Mercado, elas conseguem ver adiante da linha do horizonte. O Crato é detentor de um imenso capital ecológico e teima em não entender esta riqueza. Pomo-nos a macaquerar os municípios vizinhos em busca de uma vocação, quando ela brilha  à nossa frente a todo momento na forma de Ecoturismo. A preservação da Chapada do Araripe é uma lástima. Nossas fontes viraram patrimônio particular; nossos rios tornaram-se  esgotos a céu aberto; caminhões carregam madeira todo  santo dia, ladeira abaixo; vende-se carvão em quase toda esquina; vans fazem da Serra do Araripe aterro sanitário. Não existe qualquer educação ambiental para os esportistas que se aventurem pela Chapada. Caberia ao menos uma mínima ação política no sentido de dar uma infraestrutura mínima a esta atividade. Medidas como: demarcar as trilhas , especificá-las e sinalizá-las;  estabelecer uma educação ambiental básica aos visitantes, segurança e primeiros socorros;  regulamentar um comércio mínimo de água, sucos, energéticos, frutas; alocar lixeiras em pontos estratégicos e fazer coleta regular do lixo; incentivar competições esportivas ; formar e educar  guias para os passeios; criar ciclovias; estabelecer parcerias com a URCA, a FLONA, o IBAMA, Fundação Araripe.
                                   O Crato, por inteira falta de foco, vem perdendo de goleada esse  jogo para as outras cidades do Cariri. A  Eco-Biker´s  vem mostrando, há quase vinte anos, que é possível virar esse placar ,  fazendo um gol de bicicleta.

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