Seja porque Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa baixaram na alma
de mentes raivosas. Ou porque eles nunca suportaram os partidos de origem
trabalhista (mais ainda se socialistas ou comunistas) e sempre tiveram
esteatose hepática à simples menção de seus quadros. Quem sabe mais raiva
tenham ainda de líderes populares que ousem afrontar as migalhas do banquete
que pegam embaixo da mesa da elite nacional e internacional. Seja onde nasça
este ódio é preciso considerar algumas coisas.
Quando Eduardo Campo surgiu e depois Marina, mesmo quem
estava escaldado com o PSDB, veio com a tese que o Governo Dilma estava
ultrapassado pelo próprio povo que ajudara. Eles agora estavam numa nova classe
média e queriam muito mais do que o Estado poderia oferecer. O exemplo? As manifestações
de junho de 2013.
Agora ponha na conta de Gilmar e Joaquim mas abra o olhar
para uma megaestrutura sem a qual Barbosas e Mendes não são nada. Ao ponto
pacífico: a análise sistemática das valias das manchetes e escolhas jornalísticas
dos jornais Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Globo, das revistas Veja,
Época e Isto É e Jornal Nacional foram contundentes para uma propaganda
negativa e sistemática, criadora de ódio inclusive, contra o governo e o PT. Esta
avalanche de matérias pode transformar um pensamento livre em mero “equipamento”
de repetição acrítica de propaganda política.
Aí junta a briga de casal, o filho que não estuda, as
despesas que não fecham a carestia que é ser de classe média nos bairros
chiques e por aí vai e surge um ódio baseado nas tais manchetes. O mundo está
em crise e aquela classe média tradicional do Brasil precisa dividir espaços e
serviços que antes lhe eram quase que, socialmente dizendo, exclusivo. Avião,
Shopping, consumo de linha branca, carro, restaurantes e por aí vai.
Muitos dos raivosos se originam de uma situação em que os
avós e pais foram beneficiários do “progresso” do regime militar. Cresceram
inclusive nas estatais e nos movimentos da bolsa. Fizeram patrimônio e aí os
filhos e netos foram criados, acreditando que aquilo tudo era natural. Aquilo
existia desde que o mundo era mundo e eles tinham direito de exclusividade.
Vivem numa sociedade menos exclusiva e mais inclusiva. E
será daí por diante. A “meritocracia” de origem não ajuda em sistemas
efetivamente democráticos. Os que babam com raiva de nordestino, os
conservadores que temem o amanhã, os neoliberais que vêm “totalitarismo” em
avanços sociais coordenados, se tornam o resíduo odiento da realidade política
e social em transformação.
A campanha de Aécio Neves foi financiada e todas as jogadas
maldosas dela tinham uma articulação essencialmente originária em grandes
fundos financeiros. Foi uma campanha caríssima e que não se coaduna com as
declarações que agora farão à justiça eleitoral.
Como explicar a quantidade imensa de robôs que operaram na
Internet, SMS, Whatssap e mais o que aconteceu no Twitter e Facebook. Como em menos
de hora foi para a rua milhões de cópias da capa da revista Veja entre sexta e
sábado às vésperas das eleições em São Paulo, Brasília e no Rio. E olhem que
eram os mesmos cabos eleitorais contratados para bandeiradas do PSDB nas ruas
que distribuíam. E quem pagou toda esta logística?
E os robôs que ontem mesmo convocavam manifestações pró-impeachment da Presidenta nas ruas de São Paulo. E os
mesmos instrumentos via celular que inundaram os cidadãos com pragas contra
nordestinos. Isso tudo demonstra um forte e desleal aparato financiado para
golpear o julgamento popular.
Mas e como tirar a história das pessoas?
Falo do porteiro de um prédio na Zona Sul do Rio de Janeiro,
com todo o cuidado possível, sentado em sua mesa de trabalho e um morador com a
camisa de cima a baixo com bottons do Aécio Neves. E claro agressivamente
impondo a vontade dele. O porteiro rindo e sem dizer mais nada. O orgulhoso
eleitor saiu para seu voto de “consciência” enquanto o porteiro abria a porta
eletrônica para que se fosse.
Quantos anos tens? 48 anos. Desde quando trabalha? Desde os
8. Durante mais de 35 anos de tua vida de trabalho quanto de crédito recebesse
para comprar tua casa? Agora. Pago direitinho. Só agora aos 44 anos que tive
minha casa e não um barraco no meio da família lá na Rocinha. Agora pago Minha
Casa Minha Vida.
Como votar no Aécio? Não pelo que FHC não fez. Mas pelo que
Aécio prometia e aí o povo é esperto o suficiente para mesmo não entendendo a linguagem
do Armínio Fraga saber quem ia pagar a fatura.
Bolsa família?
Isso é de menos meu senhor. Minha filha faz pós-graduação e
todo mundo aqui estuda.
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