Com a chegada da modernidade, passadas crises do capitalismo
e guerras mundiais, incluindo o nascimento da Guerra Fria, a monolítica igreja
católica da romanização regional vinda do século XIX, ultrapassou os limites
dos novos tempos. E ao assim agir, continuou o que sempre foi: uma partição
tensa que ia do mais puro e violento reacionarismo ao mais intenso
revolucionário.
Nas fileiras dos que se calam nos claustros ao peso
institucional, não é possível esquecer as doutrinas imanentes dos seus
fundamentos religiosos (pelo menos para aqueles que a compreendem). A
crucificação do “logos” não veio para provar as más escolhas humanas e nem a
perversidade inerente às suas almas. Ao contrário: a mensagem era da salvação.
E nas fileiras, aquele silêncio opressivo da instituição,
também eles também compreendem outra coisa. A salvação não era a vida após a
morte. Ao contrário: era a superação da morte em vida. O céu nunca foi depois.
O céu nunca foi apenas harmonia constitutiva. O céu é o curso de cada um sobre
o solo, num barco navegando, num objeto voador, na luz plantando, fabricando e
criando.
E por isso a fragmentada igreja católica, apenas tinha o
papa como governador, o resto todo é de dúvidas, conclusões e adoção militante
na política do mundo. Afinal tudo, bem lá no fundo, abaixo desta ordem a
serviço das elites econômicas e política da instituição religiosa, é a
superação da morte em vida.
Vamos ao caso brasileiro. Alguns jovens nascidos nos “claustros”
familiares católicos, tão logo se viram diante do fabuloso mundo do renascimento
ocidental, do excedente industrial que excedia em muito o que sobrava das
colheitas agrícolas, da racionalidade iluminista e da ciência, entraram em
profunda crise.
Uma crise que, ao invés de resolverem pela dialética de seus
fundamentos em choque com a modernidade, se atolaram num vazio existencial e de
ordem moral insuperável em seus “arcaicos” espíritos. Tiveram “salvação” no
leito arrumado às pressas por pensadores com Jacques Maritain e tantos outros.
Daí surgiram fervorosos pensadores católicos brasileiro como
o indez deste ninho que foi Jackson de Figueiredo. Um sergipano magno que
explica muito bem que não importa a genialidade do invólucro argumentativo, mas
o conteúdo deste. E no calor dos anos em negação do liberalismo político, as
partições entre fascistas, comunistas e alguns liberais inundaram o debate
nacional. Esta corrente sempre namorou o fascismo por ter um ódio constitutivo
ao comunismo.
Mas entenda-se que este ódio ao comunismo pouco havia de
contraponto ao marxismo, ao contrário, foi sempre a ameaça moderna às estruturas
familiares patriarcais herdadas dos latifúndios que há pouco tempo havia
libertado os escravos negros. E sendo, então, um movimento contra a
modernidade, o caminho intelectualizado da espiritualidade católica pela via
Maritain, terminou por gerar dois tipos destes intelectuais.
Um é bem representado por Gustavo Corção, um pensador
católico, de texto exuberante, autor de contos e romances, mas um dos mais
agressivos colunistas do jornalismo brasileiro a favor da ditadura. Corção
esteve na argumentação do Golpe Militar, depois apontava os comunistas
(opositores) como alvo da repressão, apoiou todas as medidas repressivas e por
último exaltou o endurecimento do regime com o AI 5, a tortura e morte dos
opositores ao regime. Tudo no mais irracional, acusatório e com as trevas
inquisitoriais.
O outro é o liberal Alceu Amoroso Lima, que também fez esta
viagem entre o vazio sentido da modernidade em oposição à estrutura familiar e a
intelectualidade católica justaposta ao drama pessoal de sua juventude.
Portanto, com muita influência de Jackson de Figueiredo. Alceu Amoroso foi
crítico da ditadura e pautou em seus textos uma sociedade mais democrática.
Aliás nesta mesma linha esteve o famoso advogado Sobral Pinto.
Bem apenas para concluir sobre os fragmentos: no auge do
fascismo no mundo, quando Hitler e Mussolini eram o exemplo de melhor governo,
aqui no Brasil Plínio Salgado, emergiu daquele mesmo caminho citado e chegou ao
seu integralismo. Muitos padres jovens entre os anos 30 e 40 formaram fileira com os integralistas, como
o Padre Hélder Câmara, um dos maiores líderes da oposição à ditadura militar
brasileira. Um exemplo de fundada evolução histórica.
E sempre houve, desde muito antes, os religiosos e
pensadores católicos que optaram pela luta democrática, por ampliar o progresso
material de toda sociedade em oposição às estruturas que atrasavam este progresso:
latifúndios, concentração patrimonial, privilégios de classe, a situação
degradante dos camponeses, os miseráveis das cidades etc. O máximo desta
vertente foram os frades Dominicanos: Frei Betto e o Frei Tito de Alencar.
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