A radicalização do quadro político brasileiro se consolida
como uma verdade. Junto com uma crise econômica, que tem razões internas e
muitas externas e com um quadro de tensões mundiais que parece indicar uma
guerra global, será (ou serão) um ano (os) de muitas incertezas, agitações,
frustações e tentativas de superação através do esgarçamento institucional.
O mais típico nestas crises ou radicalizações é a
constituição de forças e contra-forças a buscar uma solução parcial pois atende
apenas a certas classes sociais de uma sociedade dividida em classes. Mais ainda
é verdade em sociedades sofisticadas como a brasileira (muito mais do que o
complexo de vira-latas imagina) onde há um forte vetor para se tornar um país
tipicamente de classe média. Ou seja, sair da crise é uma solução histórica de
desenvolvimento de classe através de um vetor político dominante e não parcial.
Temos potencial. Gente. Terras, água, energia, e
conhecimento para constituir tal vetor. Buscamos uma estratégia de inserção
internacional neste mundo em crise e conflitado, onde todas as forças se
rearranjam em nova ordem multipolar. Mesmo gigantes como a China, EUA, União Europeia
e até Rússia, vivem uma movimentação tensa e intensa sobre como será o futuro
da governança mundial.
Inclua certamente os próprios problemas do capitalismo
liberal (é incrível mas a velha URSS e a China criaram um capitalismo de Estado
e a Europa um capitalismo social) e do sistema hoje dominante, que é o sistema
financeiro. Especialmente da quantificação e expressão do valor do capital,
antes centrado na realidade objetiva da sociedade americana e nos fundamentos
da sua economia. Mas as dificuldades do dólar é o centro, exato, de tal
rearranjo.
Pode considerar que em campos de radicalizações todas as
forças se açulam em busca de uma estratégia para conquistar maiores posições. E
este açulamento decorre do próprio ataque direcionado ao PT que se encontra sob
escombros e, portanto, inativo ou hibernante a depender do curso dos
acontecimentos.
Por isso Eduardo Cunha, Presidente da Câmara, sai pelo país
fazendo uma pregação política para ocupar o espaço da crise. Renan Calheiros
ocupa a mídia muito interessada na crise. Ou seja, as facções do PMDB sentem a
oportunidade de ocupar uma maior fatia da política.
O Estado de São Paulo, por sua sociedade e por sede da direita
que pensa e tem estratégia é um “locus” importante da crise. Especialmente
porque ali sob um manto majestoso, se esconde o velho jogo do “oportunismo”
político tendo como porta voz semanal Fernando Henrique Cardoso. Que agora
passou a “admitir” bem no seu estilo matreiro (para muita gente covarde) o
golpe contra Dilma. Nesta semana suas palavras:
“Eu vou dizer uma coisa arriscada: o Lula perde hoje. Hoje
(se Dilma cai e fazem novas eleições), o Lula perde. Mas não penso
eleitoralmente. Sou democrata. Não vou dizer: Então vamos fazer o impeachment
porque o Aécio ganha, o Geraldo ganha, ou eu ganho”.
Traduzindo: é hora de fazer impeachment pois o PT é apenas
uma terra arrasada. Nem o Lula salva mais a situação deles. E na soberba de suas
palavras ele se imagina sendo reeleito para governar o Brasil.
Agora a prova desta tradução das palavras de FHC: “Não estou
dizendo que nunca vai se chegar a tal ponto (do impeachment). Não sei”. Que
dizer ele está na operação para derrubar a Dilma agora em Abril (igual ao golpe
de 64).