A origem do canto e da palavra se move na história e nos
ocorridos ao imediato da vida das pessoas. Os violeiros nordestinos se movem
nos romances provençais e nas estradas áridas e varandas patriarcais dos
sertões. O rabequeiro das feiras minguantes da velha tradição toca o arco sobre
as cordas desde o norte da África, passando por Portugal e, mitologicamente,
ligada a São Gonçalo do Amarante e suas danças.
A voz do canto é a narrativa de suas vidas. Seus dramas.
Seus conflitos, loas, aventuras e venturas desta vida severa, cruel como a
covardia dos acólitos da Casa Grande. Vestidos no manto da salvação na Igreja,
um respeitoso ajoelhar-se frente à ordem eclesiástica, para em seguida espalhar
ordem e vinganças nas costelas magras do camponês.
Os cantadores sertanejos falam de tais coisas. Como frutos
do destino, das vinganças abençoadas, da maldade destilada, cristalina e tênue
como a hóstia que absorve todos os pecados, uma espécie de salvo conduto ao
juízo final. Os violeiros nordestinos denunciam a miséria da ordem política e
econômica, mas nunca cantaram uma revolução popular como o povo do México.
Aliás como o povo cubano. Pois todas as melodias extraídas
da revolução cubana têm também raízes da península ibérica, especialmente dos
romances espanhóis assim como os trovadores provençais das nossas cantorias. A
famosa “Guantanamera”, que se refere às jovens do pedaço de Cuba sonegado pelos
EUA e tornado uma prisão cruel, era originalmente uma canção espanhola assim
com os sambas de terreiro com um refrão e uma melodia para se improvisar. Nos
anos trinta a música era utilizada no rádio para dar notícias e fazer críticas
à política. Depois recebeu os poemas de José Marti, por si, um herói
revolucionário cubano.
E no México, parte do que conhecemos como a canção típica do
país, incluindo os Mariachi, que chegou até o nosso país através do cinema de
do disco, são melodias revolucionárias. Chamadas de “corridos”, as canções da
revolução mexicana, enaltecendo os feitos dos seus líderes e do levante dos
camponeses contra a ditadura de Porfirio Diaz.
E nelas se destacam os próprios camponeses e sua desdita,
além de sua coragem e gana de vencer os tempos ruins. Se destacam as mulheres
que não aceitaram ficar em casa enquanto seus homens peleavam pelas terras
banhadas de sangue. Elas seguiram os homens naquele momento fugaz, onde o
amanhã se resolve hoje pois a possibilidade de não se ver o próximo nascer do
sol é enorme.
E temos os nomes de Francisco Villa (Pancho Villa), Emiliano
Zapata, de Francisco Madero, os nomes anônimos, os pequenos se forjando em
gigantes frente a transformação revolucionária. E temos nos corridos quatro
fenômenos comuns à revolução: o trem, o cavalo, a carabina e os instrumentos musicais.
A repressão veio com o trem que em seguida transportou a revolução. As mulheres
seguiam penduradas ao lado do trem (las soldaderas), armadas e destemidas como
só estes momentos as libertam.
São milhares de canções, que se originaram dos “corridos”
que vieram da colonização do México, se adequaram ao espírito indígena, às
canções religiosas de seu povo e as deixou para os seus descendentes, os
camponeses quase escravizados pelos senhores latifundiários. E todas elas criaram uma base sobre o futuro
musical do México.
Um exemplo é La Adelita quando o máximo que um homem pode
prometer a uma mulher é um vestido de seda. Não se tem futuro, apenas segui-la
num navio de guerra se por mar ou num trem militar se por terra.
La Cucaracha, é um corrido clássico, que se refere à
Marijuana e que depois serviu para os "Louros do Norte", em sentimento de
superioridade imperial, traçar o perfil dos mexicanos que, por necessidade,
prestam serviços a preços baratos no comércios e lares americanos.
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