TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 17 de abril de 2015

NASCEU COM A MARCA DA FARSA - O TEA PARTY BRASILEIRO - José do Vale Pinheiro Feitosa

De modo simplificado. Reconheço fácil de errar. Mesmo assim vou adiante. Adiante em busca de explicações para o nosso momento histórico.

Comecemos pelo sistema econômico predominante na atual fase da história. Baseado na supremacia e no monopólio do dinheiro (capital) sobre todos os bens matérias e a ordem política. Ao transformar a ordem de todas as coisas em tabelas precificadas, incluindo os valores morais e portanto atinentes à justiça, se aproximou da natureza largamente conhecida do Deus bíblico.

Onipresente, onisciente e onipotente. Ao mercantilizar todas as relações humanas, este sistema econômico criou uma superestrutura, que abarca desde a cultura até a amamentação da criança no peito da mãe. E, neste momento, ele fere de morte alguns princípios e esperanças muito próximas das religiões semitas (judaísmo, cristianismo e islamismo), incluindo a religiosidade de natureza oriental.
O princípio do merecimento diante do amor ao Deus ou às regras de conduta estabelecidas. Atinge, portanto, o princípio da bondade eterna de Deus onde para ele todos somos iguais em piedade, benevolência e proteção de um pai compreensivo. Até mesmo o conceito da punição se corrompe neste tipo de ordem onde o efetor da ordem é meramente a acumulação numérica de moedas (sob a forma de bens e direitos particulares).

Por isso quando algumas correntes filosóficas procuraram entender o mundo sob a ótica possível do materialismo histórico muitos viram ali a mera negação de Deus, quando na verdade se fazia a leitura do sistema econômico que nascera com a revolução burguesa na Europa Ocidental. Qual seja, a revolução materialista que opera com os mitos, fetiches e crenças sobre a esfera material da acumulação e da extração de trabalho tudo mediado por relações matemáticas de moedas.

Baseado na acumulação, o sistema é por essência excludente, marginal às regras sociais (só presta devoção à regra da acumulação seja direta ou dissimulada), mas ao mesmo tempo detentor de regulações autoprotetoras de fluxo e status, onde o privilégio é de quem se encontra no topo tentando se sustentar. 

Acumulando até mesmo além dos limites do céu, o sistema é corrupto de todas normas históricas da cultura, das religiões e de certas normas morais assentadas em tradições antigas. Por isso na indústria se retira parcela do valor do trabalho para os donos do capital, no comércio se corrompem todas as normas pelo lucro.

Eles sonegam impostos que regulariam seus excessos de acumulação. Comparativamente às corrupções recém descobertas nas operações de empresas como a Petrobrás, envolvendo políticos, a sonegação é uma montanha em relação ao monturo. Dados da Tax Justice Network revelam que o Brasil perdeu em evasão fiscal só no ano de 2012 em direção a paraísos fiscais algo em torno de 280 bilhões de dólares (na cotação do dólar na época seriam 490 bilhões de reais).

E agora paramos nisso? Ao contrário. Precisamos argumentar, participar, lutar por uma sociedade mais justa, igualitária economicamente, que abra oportunidade para as pessoas que são diferentes historicamente até o limite da contradição deste sistema. A partir daí o momento definirá a ocasião desta superação, pois não é verdade que após ele só o caos.

De caos eles entendem bem. O caos, sob a face da irracionalidade e da supressão de oportunidades é a lógica virtuosa do seu porvir. Mas é no caos mesmo que uma nova ordem nasce. Isso muita gente conhece nas primeiras letras da antiguíssima narrativa bíblica da origem de tudo.


O novo Tea Party brasileiro ainda é um pastiche e não creio que tenha bases sociais para repetir a experiência republicana americana. Mas são eles na rua que apontam para uma agenda negativa, da disrupção, puramente aversiva e martelada na corrupção em parte para esconder a corrupção geral. 

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