O octogenário padre brasileiro, que durante anos a fio tinha trabalhado fielmente e com afinco junto ao povo africano na difusão da palavra do Senhor, voltara debilitado ao Brasil (contraíra o vírus ébola) e, agora, doente e moribundo, internado no Hospital Geral de Brasília, é a notícia e manchete midiática da hora.
Em
estado terminal, já nos últimos suspiros ele faz um sinal à
enfermeira, que se aproxima. - Sim, senhor padre, o que deseja ? -
Eu queria ter a oportunidade de conversar com quatro proeminentes
políticos brasileiros, antes de partir, sussurrou o velho Padre,
ditando-lhe os nomes. - Acalme-se, verei o que posso fazer, respondeu
a enfermeira. De imediato, a Direção do hospital entra em contacto
com o Congresso Nacional e logo recebe a boa notícia: todos, na
condição de católicos, embora não praticantes, faziam questão de
cancelar os compromissos do dia, pois não poderiam perder a
oportunidade de visitar o velho Padre, moribundo.
A
caminho do hospital, na ampla limusine de um deles, Paulo Maluf
confidencia pra Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Agripino: -
Eu não sei porque é que o velho Padre nos quer ver, mas certamente,
dado o seu prestígio internacional e sua popularidade junto aos
pobres deste país, isso vai ajudar, e muito, a melhorar a nossa
imagem perante a Igreja e ao próprio povo, assim como repercutirá
internacionalmente, o que é sempre muito bom. Todos concordaram:
realmente, ali estava uma grande e rara oportunidade para eles
aparecerem e, tanto é verdade, que até fora enviado um comunicado
oficial urgente à imprensa, detalhando a hora e o local da visita.
Quando
ao “quarto” os “quatro” chegaram, com toda a mídia presente
(rádios, jornais, TV, Internet, etc) o velho Padre pediu-lhes para
dele se acercarem e, pousando sua mão direita sobre as mãos de
Jader Barbalho e Paulo Maluf, e a esquerda sobre as mãos de Renan
Calheiros e José Agripíno, agradeceu-lhes aquele gesto magnânimo,
caridoso e cristão.
Houve
um respeitoso silêncio, enquanto câmaras foram estrategicamente
direcionadas aos cinco, já que repórteres televisivos transmitiriam
ao vivo e a cores, em horário nobre, para todo o país, aquele grave
momento; para tanto, aproximaram seus sensíveis microfones para,
quem sabe, captar aquelas que seriam as últimas palavras daquele
santo homem, que estranhamente, apesar de muito debilitado,
apresentava-se com um ar de pureza e serenidade no semblante.
Então,
Paulo Maluf, na condição de porta-voz dos demais (fazendo pose para
as câmaras e imprimindo a devida impostação à voz),
perguntou-lhe, contrito: -Santo Padre, desculpe a curiosidade, mas
porque é que fomos nós – eu, Jáder, Renan e Agripino - os
escolhidos, entre tantas pessoas ilustres das que compõem o nosso
glorioso Congresso Nacional, para estar ao seu lado, neste momento
tão especial ?
O
velho Padre, com um sorriso angelical no rosto, serenamente afirmou:
-Meus filhos, como vocês são testemunhas, sempre, em toda a minha
vida, procurei ter como modelo e seguir à risca, o "Pai
Celestial", Nosso Senhor Jesus Cristo. -Amém, sussurraram, os
quatro, em uníssono. E aí, o velho Padre fuzilou, contundentemente:
“ENTÃO...COMO
“ÊLE” MORREU ENTRE LADRÕES, EU QUERIA PRA MIM O MESMO”.
Ato
seguinte, "bateu as botas"... sorrindo.
(Autor
desconhecido)
Nenhum comentário:
Postar um comentário