TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 28 de agosto de 2018

UM DIA DE FÚRIA - José Nilton Mariano Saraiva


No filme americano “Um dia de fúria”, o bom ator Michael Douglas interpreta um cidadão comum que, desempregado e atormentado por problemas familiares (separação da esposa e perda da guarda dos filhos), de repente se vê preso em um monstruoso congestionamento de trânsito, na sempre movimentada cidade de Los Angeles.

Visivelmente transtornado com o calor sufocante e o estridente som de dezenas de buzinas, sem poder ir avante ou retornar em busca de vias alternativas, toma uma decisão radical: abandona o veículo ali mesmo, no meio da rua e segue a pé, já que compromissado com o aniversário da própria filha.

Só que, a partir daí seus problemas geometricamente crescem, porquanto vítima de uma tentativa de assalto e testemunha ocular de diversas pequenas ocorrências patrocinadas por pessoas outras (estupros, roubos, etc), ao longo do percurso. Ao final, extenuado, apoplético e vencido pelo cansaço, ao chegar ao local do evento, acaba por envolver-se numa briga fatal.

A reflexão acima vem a propósito do atual caótico transito da quinta capital de maior população do país (Fortaleza), com ruas e avenidas interditadas e com prazos alongados para a entrega, um teste para as coronárias de qualquer cidadão, verdadeiro martírio para os que necessitam enfrentá-lo. Ou será que é normal você gastar 50 minutos para vencer míseros 1,5 quilômetros ???

E o pior é que, se você conseguir escapulir (a muito custo) para uma das vias laterais, pensando numa melhor fluidez, literalmente quebra a cara, porquanto outros condutores tiveram a mesma iniciativa e, assim, todas se acham “entupidas” de carros, em razão das nossas estreitas ruas e avenidas terem sido projetadas para absorver um determinado número de veículos e não oferecerem condição de alargamento, como seria necessário.

Junte-se a isso uma sinalização comprovadamente deficiente, e a conclusão é que não dá pra vislumbrar qualquer solução no curto ou médio prazo (lembremo-nos que o metrô, decantado em verso e prosa e prometido para o período da Copa do Mundo de 2014, além de uma obra caríssima, dificilmente cobrirá o destino e a quilometragem necessária para atender a todos).

Assim, como as pessoas necessitam locomover-se à busca do ganha pão diário e/ou para atendimento de outras necessidades básicas, há que se submeter aos caprichos e eterna má vontade do insensível empresariado
dono de frotas de veículos sem a mínima condição de conforto e agilidade (estão sempre em atraso).

Uma das alternativas seria a utilização do transporte público para tal desiderato, através de vias exclusivas, mas este, além da frota reduzida, peca por praticamente inexistir. As pessoas se veem, assim, obrigadas a circular em condução própria, daí os monumentais engarrafamentos verificados.

Pra completar, os últimos números disponibilizados pelas revendas de automóveis de Fortaleza são de arrepiar: na média mensal, nada menos que 3.265 carros novos são despejados nas ruas de Fortaleza, além de 2.213 motos e 101 caminhões.

Onde vamos parar ???


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