TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O "BLOCO DO EU SOZINHO" - José Nilton Mariano Saraiva


Já que não obteve os votos necessários para a batalha final, se realmente tivesse mesmo um mínimo de apreço pela democracia, e ante a ameaça real desta sucumbir ante um ultradireitista, Ciro Gomes deveria ter posto em prática seu recorrente discurso contra  o perigo da ascensão do “fascismo” por essas bandas, dando apoio àquele que se habilitou para ser o “anti” (Fernando Haddad). Isso seria o natural, o lógico, o racional, o óbvio.

Só que, com Ciro Gomes, a coisa não funciona bem assim, certamente devido à longa convivência com o seu padrinho político Tasso Jereissati (a quem espetacularmente findou traindo).  E por uma razão simplória: como bom aluno que é, a “criatura” findou por assimilar pari-passu o modus operandi do “criador”, em termos de arrogância, prepotência e autocracia coronelística.

Para comprovar, basta uma rápida olhadela para o seu extenso “prontuário-político”, onde constata-se ter aderido a incríveis sete (07) agremiações partidárias em seus 36 anos na política: PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e PDT, algumas das quais sem qualquer identidade ideológico-programática com a outra (ou seja, por pura conveniência pessoal).

E que delas se desligava em razão dos seus dirigentes não permitirem que “tomasse de conta” da agremiação (à época, houve discussões com os Novaes, aqui de Fortaleza, com Roberto Freire e com o falecido Eduardo Campos, de Pernambuco). Já com relação ao PROS, por exemplo, circulam notícias que teria pago R$ 4,0 milhões para se apossar do partido.

Frio e calculista, ao aproximar-se de Lula da Silva já objetivava obter seu apoio para uma possível candidatura à Presidência da República, mais à frente, mesmo sem integrar os quadros do PT.

Como, após reeleito, Lula da Silva frustrou seu desejo ao optar por Dilma Rousseff à sua sucessão, arranjou espaço em horário nobre nos principais noticiosos de diversos canais televisivos e tratou de desancar da candidata petista, mesmo que para tanto tenha tido que tecer loas ao adversário e arquirrival José Serra (à época, a entrega da “coordenação de campanha” de Dilma, no Nordeste, foi o bastante para acalmá-lo).

Em partidos de aluguel, concorreu em duas oportunidades à Presidência da República, tendo como “vice” figuras às quais não guardava identidade, mas que lhes eram convenientes eleitoralmente: Roberto Freire e o tal Paulinho da Força, mas ainda assim nunca conseguiu ter votos suficientes para sequer passar para o segundo turno.

Agora, na eleição recém-finda, foi convidado a concorrer como vice na chapa de Lula da Silva, mas a prepotência e arrogância falaram mais alto, já que só aceitaria entrar na disputa na condição de “cabeça-de-chapa” (ou seja, Lula da Silva e o PT deveriam se submeter aos seus caprichos e vontades, olvidando todo um passado de luta). Se tivesse tido a humildade de aceitar, com o impedimento de Lula teria ocupado o lugar que acabou sendo entregue a Fernando Haddad e, enfim, poderia ter chegado lá.

Como fracassou mais uma vez, foi lamber suas feridas fora do país, durante o segundo turno da eleição, negando-se a combater o candidato fascista e, potencialmente, ajudando-o a eleger-se, ao soprar no ouvido do irmão ventríloquo todo o ódio e frustração que dele se apossou e que foi verbalizado em reunião do próprio PT (depoimento que foi usado à vontade pelo  candidato fascista, a partir de então).

Hoje, em sua própria “página oficial” no facebook  (https://www.facebook.com/cirogomesoficial), centenas e centenas de pessoas o rotulam de traidor, frouxo e covarde, e de ter contribuído decisivamente para a eleição do candidato-fascista (em sua página oficial, repita-se).

Em troca, Ciro Gomes responsabiliza o PT e Lula da Silva pelo desastre da ascensão do fascismo no Brasil, e já dá a entender que só participará de uma grande frente democrática em 2022 se o colocarem como “cabeça-de-chapa” e, claro, com o PT fora.

Se não, continuará messianicamente a desfilar no “bloco do eu sozinho”.  


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