O
velho Padre, que durante anos tinha trabalhado com afinco e dedicação
com o povo africano voltara ao Brasil e, agora, doente e moribundo,
internado no Hospital Geral de Brasília, é a notícia e manchete
midiática da hora.
Já
nos últimos suspiros, ele faz um sinal à enfermeira, que se
aproxima.
-
Sim, Padre? diz a enfermeira. - Eu queria ver dois proeminentes
políticos, antes de morrer, sussurrou o Padre. - Acalme-se, verei o
que posso fazer, respondeu a enfermeira.
De
imediato, entra em contacto com o Congresso Nacional e logo recebe a
notícia: ambos faziam absoluta questão de visitar o velho Padre
moribundo (para tanto, as respectivas agendas foram canceladas).
A
caminho do Hospital, na “modesta” limusine de um deles, Jáder
Barbalho diz a Renan Calheiros: - Eu não sei por que é que o velho
Padre nos quer ver, mas certamente que, dado o seu prestígio
internacional e popularidade junto aos pobres, isso vai ajudar a
melhorar a nossa imagem perante a Igreja e ao próprio povo, o que é
sempre bom.
De
pronto,
Renan
Calheiros assentiu: realmente, ali estava uma grande oportunidade
para eles aparecerem e, é tanto, que oportunisticamente até fora
enviado um urgente comunicado oficial à imprensa sobre a visita.
Quando
chegaram ao quarto, com toda a mídia presente (rádios, jornais, TV,
Internet, etc), o “velho Padre” pegou na mão de Jáder Barbalho,
com a sua mão direita, e a mão de Renan Calheiros, com a sua mão
esquerda.
Houve
um respeitoso silêncio, enquanto câmaras foram estrategicamente
direcionadas ao trio, já que repórteres televisivos (inclusive do
exterior) transmitiam ao vivo e a cores aquele grave momento; para
tanto, aproximaram seus microfones para captar aquelas que certamente
seriam as últimas palavras daquele santo homem, que apresentava-se
com um ar de pureza e serenidade no semblante.
Então,
Renan
Calheiros (fazendo pose para as câmaras e imprimindo a devida
impostação na voz), disse: Padre, porque é que fomos nós – eu o
Jader - os escolhidos, entre tantas pessoas ilustres das que compõem
o nosso glorioso Congresso Nacional, para estar ao seu lado, neste
momento especial ?
O
“velho Padre”, com um sorriso angelical no rosto, afirmou: -Meus
filhos, sempre em toda a minha vida procurei ter como modelo nosso
Pai Celeste, o Nosso Senhor Jesus Cristo.
-Amém,
disse Jáder Barbalho. -Amém, disse Renan Calheiros.
E
aí o velho Padre fuzilou, sarcasticamente:
“ENTÃO...COMO ELE MORREU ENTRE LADRÕES, EU QUERIA O MESMO PRA MIM !!!”
Em
seguida, encarando as câmaras, “bateu as botas”.
Sorrindo.
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