“A MAGIA DO FUTEBOL” – José Nilton Mariano Saraiva
Quando o futebol brasileiro se fazia respeitar (pela torcida e adversários), às vésperas de mais uma Copa do Mundo da modalidade o país comia, bebia, dormia, sonhava, acordava e vivia a magia do chamado esporte das multidões.
A tal ponto de ignorar solenemente os esperados números de mais uma acirrada pesquisa eleitoral pra Presidente da República; ao mostrar descabida preocupação em debater seriamente sobre a “unha encravada” de um dos nossos craques; ou, ainda, de como o nosso artilheiro ou o nosso goleiro conseguiriam domar a “gorduchinha” (a bola), embora esta seja geometricamente igual pra gregos e troianos, já que com ela convivem a maior parte do tempo, às vezes até intimamente (segundo o folclore popular, exageros à parte, alguns chegam até a dormir com ela, desprezando a própria esposa) .
Às vésperas de uma Copa do Mundo, onde você circulasse, com quem você se fizesse acompanhar, quer fosse num banal e simplório encontro a dois no escurinho do cinema e/ou num ambiente mais concorrido, sofisticado e eclético, como os shoppings da vida, não poderia fugir ou fazer de conta que não estava nem aí, porque a indagação soava inevitável e preocupante: “e aí, você acha que a seleção brasileira vai conseguir mais uma “caneco” ???”
Afinal, o que se esconde por trás da magia e dos excessos do futebol ???
Por qual razão, não só no Brasil, mas no planeta Terra como um todo - do tórrido deserto do Saara à glacial região siberiana na Rússia, da fervilhante Nova York ao conturbado Oriente Médio e por aí vai - milhões de pessoas (crianças, adultos, ricos, pobres, mulheres, homens, pretos, brancos, intelectuais, profissionais liberais e analfabetos) unos se deixam envolver e anestesiar, momentaneamente, a fim de acompanhar vinte e dois marmanjos a correr feito loucos atrás de uma bola, durante 90 minutos ???
Por qual razão nossas dívidas pessoais são esquecidas, nossos compromissos “inadiáveis” postergados, a saúde desprezada (e agredida pelo excesso alcoólico), amores estremecidos reatam, afloram e explodem novas paixões, fábricas são paralisadas (com a consequente suspensão da atividade produtiva), os indecifráveis números da economia são deixados de lado, esquecemos o que seja inflação, PIB, dívida externa, PAC, superávit primário e por aí vai, durante os 30 dias de duração de um “torneiozinho que não tem nem segundo turno” (conforme o ingênuo e fenomenal jogador Mané Garrincha se referia à Copa do Mundo da Suécia, em 1958, quando o Brasil foi campeão do mundo pela primeira vez ???).
Por qual razão reis, rainhas, súditos, presidentes, o Papa, ditadores e tantas outras pessoas influentes e responsáveis pelo destino de milhões de irmãos, repentinamente se irmanam ao povaréu num mesmo objetivo, um só desejo, uma só promessa de fé, uma só torcida, um só coração ???
Por qual razão, num dia e hora pré-estabelecidos (mesmo sendo dia útil), nos postamos todos ali, contritos, inertes, silenciosos, “taquicardíacos de ocasião”, olhos vidrados na “telinha”, à espera do momento de - até que enfim - soltar o grito de gol há muito preso e entalado na garganta ???
Como explicar a “magia do futebol” ???
Postscriptum:
Tal reflexão não vale para a atual seleção brasileira, comandada pelo fracassado e incompetente Tite e repleta de jogadores mercenários.
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