A “MÃO DE
DEUS” ??? – José Nílton Mariano Saraiva
Na horripilante e pavorosa tragédia que se
abateu sobre o Rio Grande do Sul, com destaque para o estrago fenomenal da sua
capital, a belíssima Porto Alegre, um detalhe, pela recorrência, chamou a
atenção de todos nós: quando algum sobrevivente ou membro da família envolvida
tinha a oportunidade de manifestar-se ante as câmeras televisivas, não perdia a
chance de louvar a Deus, de garantir ter sido a “mão de Deus” responsável por
retirá-lo do meio do dilúvio, de reafirmar contundentemente que somente a
“intervenção divina” explicaria sua sobrevivência.
Enfim, o “homem lá de cima” (como citou um
deles) era merecedor de todos os créditos, honrarias e méritos, em razão da sua
benevolência e magnanimidade.
Mas, se nos adstringirmos à prevalência de
tal ponderação, como é que eles mesmo (os que se salvaram) explicariam minimamente
e de forma consistente às famílias enlutadas o destino fatídico e cruel de quase
duzentas pessoas (por enquanto), dentre as quais crianças inocentes e idosos ainda
saudáveis, vítimas de deslizamentos ou levadas de roldão, ribanceira abaixo,
pela descomunal força das águas ???
Como justificariam que a “mão de Deus” (que
os salvou, segundo eles) não haja guiado essas centenas de pessoas, em meio ao
turbilhão, a um porto seguro, salvador e de águas plácidas ou, ao menos, menos
agressivas ??? Como explicar que a benevolência e magnanimidade do “homem lá de
cima” hajam contemplado somente alguns (eles), enquanto, desafortunadamente,
famílias inteiras (avós, pais, mães, filhos e netos) desciam na enxurrada, evidentemente
que aterrorizados e sem vislumbrar qualquer perspectiva de salvação ??? Será
que rezavam e desesperadamente apelavam a Deus, naquele fatídico momento ???
Alfim, o questionamento intrigante: existirá
um Deus “elitista” que, ao tempo em que concede a “graça e salvação” a alguns,
despreza ou esquece de tantos outros fervorosos beatos ??? Ou a “graça e
salvação” estariam também no desaparecer prematuramente, no ir-se mais cedo
desse mundo conturbado, mesmo sem entender por qual razão foram “escolhidos”
??? Quais os critérios determinantes de quem deve ou não deve ser salvo pela
“intervenção divina”, numa tragédia de tamanhas proporções ???
Bem que psicólogos, religiosos de um modo
geral e experts (sobre), poderiam tentar explicar o seguinte: existirá um “Deus”
magnânimo e benevolente, um Deus indiferente a tudo isso, ou ainda um outro Deus,
cruel e maldoso, para permitir o acontecido ???
Como aceitar passivamente a superlativa tragédia
ocorrida no Rio Grande do Sul ???
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Post Scriptum:
No mais, e independentemente do
questionamento posto, não há como deixar de ressaltar a oceânica e avassaladora
solidariedade da população brasileira, em geral, para com nossos irmãos
gaúchos; afinal, foram milhões e milhões de reais, em dinheiro vivo (muito mais
de cento e cinquenta milhões), além de toda espécie de doações (roupas,
calçados, eletrodomésticos, água, mantimentos em geral e por aí vai), oriundos
de todos os estados brasileiros; isso é o que podemos denominar de irmandade
ou, mais especificamente, brasilidade. Parabéns ao povo brasileiro.
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