TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Notícias de Zé Menezes




No segundo caderno de O Globo, ontem, segunda feira, um artista de primeira constelação. Zé Menezes, músico e virtuose, de muitos instrumentos: violão de seis e sete cordas, violão tenor, bandolim, banjo, cavaquinho, viola de dez, guitarra amplificada, guitarra portuguesa, contrabaixo e outros tantos instrumentos de cordas dedilhadas. Aos 86 anos, com sua face de velho índio Cariri numa pele de migrante português, Zé Menezes lançou, no Teatro Rival BR, um CD autoral "Gafieira Carioca".


Em 1943 o músico longevo iniciou sua carreira no cast da Radio Mayrink Veiga num regional com gênios inesquecíveis: Tute, Laurindo de Almeida, Lupérce Miranda, Luís Americano e João da Baiana. Atenção companheiros interessados vão ao Google e entendam a importância deste grandes músicos. Zé Meneses trabalhou com o mito Garoto, aquele mesmo que compôs Gente Humilde que Chico e Vinícius puseram a letra. O velho músico diz: "Depois de trabalhar com Garoto e Radamés para mim é difícil admirar alguém". Tocou na Orquestra da Rádio Nacional e participou no quinteto do Radamés com o próprio ao piano, o Vidal no baixo, Luciano na Bateria, Zé no Violão e o famoso Chiquinho do Acordeom. Chiquinho, gauchão alourado, face de boêmio o conheci na AABB do Rio, tomando cerveja e jogando sinuca. Todos os sábados e domingos e costumava tocar nos bailes dos idos dos anos setenta naquele clube. O Chiquinho acompanhou muita gente de sucesso do disco brasileiro, entre os quais se costuma ouvir o velho Lua Gonzaga gritando alguma frase com referência ao acordeonista.

Quase toda gravação em que existia um violão elétrico acompanhando entre as décadas de 50 e 60 quem lá estava era o Zé Menezes. Acompanhou, entre muitos, Ismael Silva, Ataulfo Alves, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos, Wanda de Sá. O músico de todas as almas foi do samba ao samba canção, do baião à bossa nova, chegou na jovem guarda. Tocou bandolim para o cantor americano Nat King Cole aquele mesmo da voz que chegou aos anos 90 com Unforgeteable.


Zé Menezes tocou na Sorbonne, na BBC de Londres, passou pelos cabarés e gafieiras do Rio, andou pelos Cassinos dos anos 40 e pelo auditório da Rede Globo, foi um dos bossa-novistas de Tóquio. São 70 anos de profissão.

Na sua entrevista para a matéria de O Globo, Zé Menezes falando sobre o futuro: daqui a 150 anos, quando eu morrer, quero voltar músico. Hoje o músico mora no sopé da Serra do Órgãos, na cidade de Guapimirim, vive otimista e gostando da vida. Teve dois filhos do primeiro casamento e duas filhas do segundo. Antes de ser pai e avô, Zé Menezes, como todos nós, nasceu e como nasceu bem.

Nasceu no alto da Chapada do Araripe, em Jardim, no ano de 1921. Na mesma cidade do Padre Benze Cacete que pretendeu a restauração de Dom Pedro I, surgiu o instrumentista do pinho. Aos 6 anos encantou-se com a Banda de Música da cidade e, em seqüência de vida, completa: no ano seguinte, nós nos mudamos para Juazeiro, também na Serra do Araripe, o nosso Cariri, e lá me iniciei no cavaquinho. Aos 9 anos, já tocava nos saraus da terra. Um dia toquei para Padim Cícero. Ele estava sentado numa cadeira imensa, um trono, com um cajado na mão e pose de Papa – Você ainda vai ser grande músico, - disse, depois de ouvir meu cavaquinho".


Pronto, meus amigos blogueiros, poetas e seresteiros, amantes e amados, o Padre Cícero, como vocês, profetizou e aconteceu. E o mais belo de tudo, aconteceu com alguém que ainda diz: o nosso Cariri.

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