TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Nonada. Sertão: é dentro da gente



Salatiel e Zé Flávio falaram sobre “Os Sertões”. Pois bem. Admito que minha experiência com Euclides da Cunha não foi muito prazerosa. Eu tinha por volta de quinze anos quando tentei ler os sertões dele. Lembro que achei muito enfadonha a descrição minuciosa tecida em “A Terra” e acabei desistindo. Talvez um dia eu tente novamente. Talvez eu me interessasse outra vez se tivesse visto a obra ganhando vida num palco. Mas não pude.


Mire veja: o que posso é falar que percorri o Sertão por outras Veredas. Um Sertão singular, um ser-tão que é mais de dentro que de fora. O de Guimarães Rosa. Terminei, finalmente, de ler o romance. Interessante foi perceber que a descrição espacial do sertão de Rosa não cansa, porque é mais um espelho da vida interior dos personagens que uma descrição externa, apartada de tudo o que é subjetivo: o sertão se constrói sob as lentes que cada um de nós coloca nos olhos: “Sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano! – ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo.” E é terrivelmente arrebatador: o Amor, a Guerra, o Sonho, a Traição, o Ódio, a Força, o Medo. Deus e o diabo (na rua, no meio do redemoinho...). Tudo retratado com a intensidade e a beleza do Rosa. O Sertão dele é universal; naquelas páginas a gente fica com coração na mão. É comovente o modo como Guimarães Rosa descreve as oscilações de tudo o que há de mais íntimo em Riobaldo (e em todos nós). E é mágica a história de amor entre nosso Tatarana e Diadorim: uma história onde o amor transcende a tudo (ou quase?). Viver é muito perigoso.


Mire veja. Acho que todo o mundo tem que encontrar aquilo que existe de mais verdadeiro na vida. E um bom lugar para isso é o sertão.


O Sertão e suas tantas Veredas...


(Existe é homem humano. Travessia)

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imagem: do disco "Matita-Perê", do Tom Jobim. Disco que tem muito de Guimarães Rosa. guimarães rosa: nomezinho fantástico que tem que ser repetido o tempo todo, eternamente.

6 comentários:

Lupeu Lacerda disse...

sertão
ser
tão.
rosa?
no sertão?
tudo é possível
pra quem criou manuelzão e miguilin.

belo texto.

Amanda Teixeira disse...

"A gente vê o impossível", Lupeu!

Observaçãozinha: Que bom você ter permanecido no blog!

Domingos Barroso disse...

Todos os Sertões dentro de nós:
o Sertão Rosa, o Sertão Cunha.

Domingos Barroso disse...

O Sertão de Graciliano Ramos também.

Amanda Teixeira disse...

Ah, sim. O de Graciliano Ramos sempre deixou meus olhos cheios d'água.

LuxX disse...

http://www.youtube.com/watch?v=LEATY8xd1ao