TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007


O natal é a festa da natividade. É redundante a frase, mas o natal é a festa do nascimento, da reprodução humana, é a festa, por excelência, do amor. A festa dos amantes e seus filhos. É bem verdade que os filhos perderam a transcendência única do batismo e se dividiram, também, em registro civil. Assim como ocorreu com o acasalamento dos dois sexos que perdeu muito mais em seus aspectos sublimes e se tornou um contrato entre dois, com cláusulas de rompimento.

O natal é, além de tudo, uma festa do cristianismo, pois o casal José e Maria e seu filho Jesus são os mitos avocados neste dia. Mas o natal que se tornou uma festa de grande parte da humanidade a oriente e ocidente é européia e do cristianismo, inseminado no oriente médio e gestado pelo mundo grego. Mitos pagãos locais se incorporaram à festa através do mundo e finalmente se tornou uma festa do comércio. Padronizada através de alguns ícones, estrelas, árvores, mitos humanos e pela encenação da natividade na pequena lapa.

Como festa comercial, o natal movimenta as economias, assim como todas as festas na humanidade, sejam as da fertilidade pagã como o São João, seja o Carnaval e a festa do acordar como dizem os franceses em relação à pequena refeição após a missa da passagem do ano – réveillon. Hoje é uma grande juntada de pessoas estourando bebidas alcoólicas, vendo os efeitos do foguetório chinês, gritando, cantando e dançando na madrugada do primeiro dia do ano.

Afinal são festas anuais, repetem os ciclos do tempo que parece os humanos pós-modernos já não os possuir. O indivíduo já não é detentor do seu tempo. Desde que nasce o tempo é uma imposição externa ao tempo que cada um deveria ter como atributo de si mesmo. Todo mundo nasce agendado, pela escola, pelo trabalho, compromissos, consumo. Esta loucura: peça um tempo para alguém e ela dirá que não o possui. Seus compromissos tomam –lhe cada célula do corpo. Todos desejam o que não precisam e precisam do que não desejam.

Assim é que, no útero em que o mito do natal foi inseminado, a guerra campeia. Toda a palestina é um açougue sangrando vida e um vulcão preste a explodir numa violência terrível e interminável. Um filme israelense tratando o assunto tem uma música no roteiro sonoro que é a imagem atual da terra da natividade. Uma música que é o ciclo da morte em cadeia, de um pai que comprou uma cabra, que produzia leite que foi mordida por uma cobra que levou a morte da cabra, de um falcão que matou a cobra e assim por diante.

Após o primeiro dia do ano de 2008, uma equação terrível aguarda a palestina no espaço dos filisteus que um dia morreram soterrados em seu palácio pela força rediviva de Sansão. A faixa de Ghaza ferve em fogo nem brando e nem rigoroso, um fogo que queima corpos aos poucos até atingir o ponto de ebulição em que tudo mais se envolve. No mesmo natal na terra de Ur em que nasceu o profeta Abrahão, o saque, a fome, as bombas e as humilhações em forma de grãos da ampulheta que acompanha a passagem do Iraque.


Nesta semana que nos aproxima do natal um insano Inglês arrematou numa loja de de leilões de Nova Iorque, por milhões, um leopardo esculpido nos alvores da civilização sumeriana. Era uma peça saqueada pela guerra do Iraque, e leiloada na sede financeira do país agressor, a ética, a humanidade tombou como as torres gêmeas sob o impacto do terrorismo.


A boçalidade e a insensatez, entre os EUA e o Terrorismo, afinal, fizeram um jogo de trocas cujo resultado foi zero.

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