Como não sei onde encontrar a verdade,
Vivo investigando as paredes.
Nem todas silenciosas.
Há aquelas sinistras
Que blasfemam contra as teias de aranha.
Reclamam da umidade.
Odeiam poeira.
Não se apiedam das miseráveis traças.
Recolhem-se de tal forma
Que racham o teto.
Sequer vêem a cômoda,
Cama, geladeira, sofá.
Em manhãs de terça-feira
Essas paredes anacoretas
Permitem ao poeta
Um frio abraço.
Depois se fecham
Entre multidões de objetos.
2 comentários:
Domingos legal você dar vida às paredes! Sempre foi verdade que elas sabem mais da gente do que sabemos delas!
Gostei dessa hein!
Abraço!
Domingos: a poesia é uma prática humana muito estranha. Existem ocasiões em que a neblina ainda se encontra no horizonte e um arco-íris já toma conta das cores do nosso olhar. Já começamos poetando em policromia. Por outras é como o vôo de um ganso desde o morro em que se encontra até o açude lá na várzea abaixo. O texto começa com um caminhar de intenções, as pernas se agitam, as asas enormes começam a ultrapassar os limites do corpo, a corrida começa, as asas se abrem e um exuberante vôo de condor, com mais de metro de envergadura das asas, segue no espaço dentro de nós. Segue e pousa na película de água da mansa manhã como um hidroavião, elevando neblinas arcoiradas. Tudo isso para falar, deste segundo caso, do poema que acabas de arremessar na nossa direção: estas paredes anacoretas as quais abraças às terças feiras.
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