TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cópia

Como não sei onde encontrar a verdade,
Vivo investigando as paredes.
Nem todas silenciosas.
Há aquelas sinistras
Que blasfemam contra as teias de aranha.
Reclamam da umidade.
Odeiam poeira.
Não se apiedam das miseráveis traças.
Recolhem-se de tal forma
Que racham o teto.
Sequer vêem a cômoda,
Cama, geladeira, sofá.
Em manhãs de terça-feira
Essas paredes anacoretas
Permitem ao poeta
Um frio abraço.
Depois se fecham
Entre multidões de objetos.

2 comentários:

Pachelly Jamacaru disse...

Domingos legal você dar vida às paredes! Sempre foi verdade que elas sabem mais da gente do que sabemos delas!
Gostei dessa hein!
Abraço!

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Domingos: a poesia é uma prática humana muito estranha. Existem ocasiões em que a neblina ainda se encontra no horizonte e um arco-íris já toma conta das cores do nosso olhar. Já começamos poetando em policromia. Por outras é como o vôo de um ganso desde o morro em que se encontra até o açude lá na várzea abaixo. O texto começa com um caminhar de intenções, as pernas se agitam, as asas enormes começam a ultrapassar os limites do corpo, a corrida começa, as asas se abrem e um exuberante vôo de condor, com mais de metro de envergadura das asas, segue no espaço dentro de nós. Segue e pousa na película de água da mansa manhã como um hidroavião, elevando neblinas arcoiradas. Tudo isso para falar, deste segundo caso, do poema que acabas de arremessar na nossa direção: estas paredes anacoretas as quais abraças às terças feiras.