José Alves de Figueiredo*
Este rio que passa aqui gemendo,
E vem da serra envolto em cipós,
Anda plangente desde que entendo,
Desde que se entenderam meus avós.
É um rio de amor que vem trazendo
O cristal que regala a todos nós.
Seu gemido é segredo que eu desvendo,
Pois nele fala o Crato em terna voz.
Cantem outros o encanto de outros rios,
Como fez com o Tejo o vate luso,
Que eu cantarei em doces murmúrios
Do Granjeiro esta voz que sempre acuso
Como um lamento, um canto de amavios,
Um lamento de deusa que eu traduzo!
* "José Alves de Figueiredo nasceu no Crato, em 28 de abril de 1878 e faleceu na mesma cidade, em 6 de fevereiro de 1961 (...). Autodidata, depois de freqüentar a escola primária, empregou-se numa farmácia, da qual seria mais tarde proprietário. Foi dono de um grande sítio de lavoura no sopé da Serra do Araripe. Foi vereador em mais de uma legislatura, chegando a exercer mandato de prefeito municipal do Crato na década de 20. Ainda em 1901 fundou e dirigiu o jornal Sul do Ceará(...). Publicou: O Beato José Lourenço (1935) e Ana Mulata (1958), sendo postumamente editados, pelo Instituto Cultural do Cariri, seus Versos Diversos (1978), com prefácio de J. Lindemberg de Aquino (...)."
Sanzio de Azevedo (soneto e texto publicados na revista Itaytera, nº 27, 1983)
... E o Granjeiro que não existe mais
Belos versos para um rio que não existe mais.
Este é o sentimento que toma conta de qualquer cidadão cratense que tenha o mínimo de sensibilidade ou consciência ambiental.
O que já foi um límpido e caudaloso rio, onde as donas-de-casa lavavam roupas, as crianças tomavam banho e os homens pescavam,- é hoje um fétido canal a céu aberto, um pútrido esgoto que se constitui no mais vergonhoso atestado de subdesenvolvimento de uma cidade.
Devemos, pois, cobrar de todos os candidatos a prefeito desta cidade um compromisso, firmado em cartório, para com a despoluição do rio Granjeiro. (Carlos Rafael)
Um comentário:
Acho dificílimo que alguém um dia venha a despoluir um rio numa cidade cuja sanha imobiliária desgraça sua nascente. O mal vem da raiz. Não tem jeito, o Crato rendeu-se à indiferença com "essas coisas menores". Sem pessimismo, gente. É pé no chão mesmo.
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