TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 12 de março de 2008

Ray Bradbury

Emerson Monteiro

Às vezes, essa coisa que chamam de mim pega a perguntar a si o que vem a ser assim isso de viver, nesse mundo incorreto, de tantas contradições e poucas certezas. Ah, não é isso, não. São só algumas interrogações que insistem na velha forma de querer saber mais de si, sem, no entanto, responder as perguntas básicas, essências, que vagam à toa pela vida, quais meros protocolos comuns de nuvens brancas soltas no ar, deslizando ligeiras nos vácuos da imaginação e portas abertas a tantas outras indagações sucessivas. Vozes discretas nos corredores dos sonhos, humor bem intencionado, contudo, reclama essa vontade constante de algum sentido.

Depois perguntas nada respondem... Ficássemos quietos e descortinaríamos muito mais, talvez.

Desde um livro, Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury, autor americano que me foi mostrado por Tiago Araripe, nos anos 60, um gênio da ficção, o rosto das outras possibilidades, que no Ocidente católico recebeu o nome de realismo fantástico. Outras obras de Bradbury campeavam nas cabeças encaracoladas daquela época: Contos do país de outubro, Outros contos do país de outubro, Uma sombra passou por aqui, Fahrenheit 451 e outros. Este derradeiro serviu de argumento para um dos filmes de François Truffaut. Em uma sociedade futurista, os livros são proibidos e, assim que encontrados, queimados pelos bombeiros, como se fossem uma ameaça a esta sociedade. Deste paradigma sai o título do livro: a temperatura na qual o papel pega fogo.

A história retrata o bombeiro Guy Montag, que começa a questionar a maneira como as coisas funcionam e o perigo representado pelos livros. Não demora muito para ele perceber a futilidade da sua vida e de sua mulher Mildred, perdida entre paredes falantes e famílias virtuais.

Sim, o que gerou isto de falar desse jeito de assuntos distantes, enterrados noutras areias e noutros desertos, em que se cumpriram determinações de tempos imemorais, que insisto desobedecer a ordem do tempo. Aqui venho responder e não querer saber demais. Saber cabe aos que ficam em casa à espera das respostas que lá existem jogadas nos cantos dos cômodos ensobreados, poeirentos.

O motivo de tais divagações, a visita que realizei no blog Cabelos de Sansão, de Tiago, cheio de assuntos duma época em que testemunhava suas primeiras manifestações musicais e saíamos por aí gravando as notas flutuantes que adiante formariam a sua produção rica de tons e letras valiosas.

Cotista privilegiado, Ray Douglas Bradbury, escritor, ensaista, poeta e roteirista, nasceu em Waukegan cidadezinha de Illinois em 22 de agosto de 1920, foi o terceiro filho de Leonard e Esther Bradbury; por causa do trabalho de seu pai (técnico em instalação de linhas telefônicas), viajou por muitas cidades dos EUA, até que em 1934 sua família fixou residência em Los Angeles, Califórnia.

Das várias influências que recebi da minha geração, esta marcou com gosto os modos com que vejo as dimensões da filosofia da existência. Bradbury revela-se meio descrente, deixando marcas de lama e betume nos setores azedos das suas produções. Busco, porém, com ênfase ser otimista crônico, em tudo por tudo, vez que de nada adiantaria recalcitrar contra o aguilhão, nas palavras de Paulo de Tarso, um outro autor que alimenta meus vôos transcendentais da literatura interior.


Um comentário:

Tiago Araripe disse...

emerson,
nem me lembrava de ter lhe apresentado os livros do ray bradbury. considerado poeta da ficção científica, ele é uma demonstração de que não existe "gênero menor" quando se tem talento, estilo e criatividade.
abs.
tiago araripe