TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 25 de maio de 2008

PORQUE ACREDITO NA VIDA

Acredito na vida. Essa afirmação é base da minha convicção e visão de mundo. Acredito na vida porque vejo nela algo mais que meus olhos não conseguem me mostrar. Eu me encanto com a vida. A vida é algo surpreendente, pois quando menos se espera ela nos apronta uma cena chocante e em seguida uma outra fascinante. A vida é tudo que nos faz sentir, rir, chorar e amar.O desencantamento do mundo é a perda de sentido do homem moderno produtivo e utilitário.
A vida é um movimento de placas tectônicas culturais que se deslocam no subsolo da consciência e que se reflete como terremotos ou abalos no solo da experiência humana; é um vulcão que depois de longas décadas ou séculos de quietude, repouso e ócio decide se levantar e trabalhar ferozmente; é uma tempestade que arrasa cidades, derruba árvores, inunda os rios, cospe fogo do alto queimando tudo e depois num passe de mágica se transforma numa brisa doce e suave; é a alegria incontida da descoberta de um filho desaparecido; é a felicidade de saber que a doença incurável desapareceu num tratamento médico ou num milagre imprevisível; é a totalidade e a diversidade de cada experiência humana; “é um sopro do Criador numa atitude repleta de Amor” – Gonzaguinha (cantor brasileiro).
A sensação que tenho é que o projeto da modernidade de controlar a vida falhou. A vida vem se afirmando como soberana sobre o destino humano. Nenhum homem tem controle sobre a vida. Fico imensamente feliz ao descobrir e constatar isso. Nunca seremos padronizáveis e totalmente controláveis. Graças a Deus! Adeus à globalização de idéias, sentimentos, sensibilidades, costumes e crenças. Um padrão único é impossível para a vida humana. A biodiversidade, a universalidade, a pluralidade, a multiculturalidade, multidimensionalidade, a transdisciplinariedade, tudo isso é a resposta da vida. A vida é livre por princípio e natureza. A ignorância humana foi querer adotar um sentido único para todos. A dicotomia entre bem e mal reduziu a vida a dois pólos: o civilizado e o bárbaro, o injusto e o justo, o competente e o incompetente, o certo e o errado. Por isso, nunca conseguimos compreender a vida. A vida é multipolar; multidimensional e multicultural. A vida é ela mesma sem muitas explicações. O sol não se resume numa explicação racional científica: “uma bola de gás incandescente”. A natureza não é apenas uma biologia ao prazer da experiência e controle humano. Por detrás do aspecto biológico existe a vida num sentido amplo e enigmático. A vida é um eterno mistério em si mesma. Apenas revelamos algumas de suas facetas quando ela decide ajudar o homem em sua evolução da consciência.
A vida é um espetáculo constante e aberto ao novo, tradicional, velho, inédito, já conhecido, desconhecido, frio, quente, lento, veloz, conquistador, conquistado, bom, “mau”, feio, bonito, rico, pobre, profano, sagrado, oculto e ao revelado. Em suma, a vida transcende qualquer dos dois pólos e qualquer contradição. A vida é suprema. Ela é real e deslumbrante. Podemos aprender com ela ou não. A dor e o Amor são respostas às perguntas que a vida faz a cada um. Se respondemos individualmente ou coletivamente sofreremos ou amaremos individualmente e coletivamente. O que plantamos colhemos; o que colhemos consumimos; o que consumimos nos ajuda amar ou sofrer. O sofrimento é o lado amargo da vida competitiva. A felicidade incondicional é a resposta sábia à vida amorosa. O tempo todo a vida está nos argüindo sem que percebamos a sua linguagem e intenção. A vida não tem uma única linguagem. A vida fala através da própria vida de cada um. A sua linguagem é múltipla e multidimensional. Ela fala através dos pássaros, das árvores, dos peixes, dos sentimentos humanos, de cada cultura e história humana, de cada situação e momento, de cada dor e alegria.
A vida é, e não apenas está aqui ou ali. A vida não tem tempo. Ela não se guia pelo relógio da lógica instrumental e moral dos homens. A vida somente pode ser vivida por cada ser, espécie e sistemas. Ela é um pulsar cadenciado das estrelas, das marés, dos corações, dos vaga-lumes, das vibrações das partículas subatômicas e das explosões cósmicas. Ela é um todo que transcende qualquer compreensão baseada na lógica formal, material ou soma de partes e subpartes. E não cabe em nenhum lugar ou espaço. A VIDA é infinita, cósmica, sensível e eterna.
A VIDA é o que queremos ser, viver, sentir e continuar na grande estrada da evolução da consciência e na “sutilização” (qualificação ou purificação) da energia humana. O caminho é estreito, mas a VIDA é longa – muito longa. Só nos resta viver! É preciso aceitar os desafios da VIDA. Ou seja, nunca em tempo algum devemos nos sentir desanimados e desamparados pela VIDA. A VIDA não faz fronteira com a morte. A VIDA não tem limites! A morte é a ignorância humana em relação aos projetos que a VIDA fez para todos, indistintamente, em suas várias dimensões. Eu mesmo já visitei outros andares (planos) da VIDA fora desse plano da vida comum. “A casa de meu Pai tem várias moradas [andares]”- disse Jesus.
Então, “quem tiver medo da “VIDA”, morrerá” (disse Jesus). Isto porque o medo à vida é uma idéia assustadora de “morte” ou ilusão do limite da VIDA. A VIDA não se explica senão pela própria manifestação dela na vida humana. A razão faz parte da vida, mas jamais poderá descrever ou explicar a origem da VIDA. Toda teoria científica é provisória e portanto uma hipótese admitida como válida até quando a VIDA desejar revelar novos princípios desconhecidos. E seja a teoria que for! Nesse sentido, a luta do homem pela vida não tem muito sentido de ser. Deveríamos cooperar (e não lutar) com todos (e entre si) pela manutenção do sopro da VIDA em nossas pequenas e humildes vidas humanas!
Prof. Bernardo Melgaço da Silva

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