TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Recados


Omar chegou do mar
Voz embriagada de sal
Olhar de cobiça
Corpo ouriçado
pronto para amar
Custou tanto ...
mas voltou amante
Disse que me amara
Todos esses anos !
Eu morri de susto...

Que boa ventura ,
um amor voltando !

Repasse de músicas ,
de versos e falas ...
tudo rebuscado
no que já ficara ...

Nosso labirinto
hoje é nosso encontro
Promessas vencidas são revalidadas
Sussurros contidos , em gritos de espanto ...
Um amor urgente , como um telegrama !



Amália não cantava fados ,
Nem lembrava fada ...
Era apenas uma mulher astuta
Com unhas de bruxa ...
Esmalte escarlate !

Tinha pretume nas madeixas brancas

Um olhar de dama ,um jeito cigano ...
Nos seus adereços,que brilhavam tanto ,
sempre acontecia ser desprateados !

Amália era como Dália ...
Uma donzela que não foi casada
Numa espera vã , bordou seus lençóis ...
Que amarelados , enrolam seus sonhos
há cinquenta anos !


Gilda
Vive o contar das horas ...
Ouvidos ligados ,
no tocar dos sinos ...
Enlouquecida ,
só espera a morte !

Já correu no tempo
com olhar bandido ...
Hoje já dispensa ,
um tal de destino ...
Se enrosca no leito ,
abraça o travesseiro ,
vive no futuro ,
sempre tão menino !


Madrugada com cheiro de maio
Rosa viva , quase abandonada ...
Rosa na janela toda envidraçada !

Perfume no ar ,
que o vento traz ...
Rosa - antigo no vestido
Rosa na boca, rosa no sofá ,
nos livros já lidos , no jarro da mesa ...
Rosa perdida , nos seus devaneios ...
Rosa que fala ... por seu doce cheiro !

O anel de rubi

Amélia tinha 13 anos quando recebeu uma flor,
um anel, e um pedido de casamento ...
Espanto nos seus olhos grandes
Rubi promessa de amor eterno!

Amélia recuou ...
Deixou o corpo falar , em seu lugar ...
Calou o coração...
Esqueceu os versos ,
os bilhetes poéticos , o amor romântico ...
do parque de diversão , quermesses ,
esquinas enluaradas , circos empoleirados ...
Viu-se em metades , dividida, fragmentada ,
e seguiu estrada ...

Nas paralelas , um olhar aberto
amor ausente , sem lugar presente
Mas tudo volta , como volta a onda ...
Abrupta ou lentamente ....

E o amor azul
foi ficando escuro
com o passar do tempo ...
As palmeiras cresceram ...

Um certo dia ," por descuido ou fantasia ",
revirou lembranças ...
incompletadas de medo

Reescreveu sua história
Encarou riscos e dores ,
e descobriu que o amor ,
cresce como gente !

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