TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 7 de outubro de 2008

PESQUISA E INFLUÊNCIA ELEITORAL

Desde o advento da pesquisa eleitoral no Brasil que o assunto é controvertido. O mais comum é a manipulação realizada pela mídia a serviço de certas candidaturas ou autoras de projetos políticos. Os institutos se defendem com a flexibilidade do erro de toda amostragem, 3% acima ou abaixo o que, convenhamos, é uma bela margem de erro, ou seja, 6%. No embate em que não é incomum que as diferenças entre vitoriosos e derrotados ocorra numa margem muito menor que o erro, não deixa de ser compreensível a idéia que as pesquisas eleitorais sejam veículo de manipulação da vontade democrática e livre do eleitor. Não existe um cidadão que já tenha participado de eleições que um dia não tenha se sentido ludibriado pela vontade adversária como ventríloquo dos institutos de pesquisa, especialmente o IBOPE e DATA FOLHA. Num jogo de cinismo não raro em suas páginas, O Globo nos brinda com a chamada de uma matéria. Pesquisas: institutos erram e trocam acusações.

Nas eleições deste ano a rede Globo e o seu jornal chegaram ao extremo. Para falar do que se verificou nas principais capitais vou relatar o caso do Paulo Ramos, candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PDT. No primeiro mês de campanha o Paulo foi convocado á rede Globo para acertar detalhes dos debates promovidos pela emissora. Naquele momento o eleitor precisava informação para firmar suas convicções. Tratar o eleitor como boiada sendo tangida por amostras de pesquisas eleitorais é um ato antidemocrático. O eleitor precisa da informação do candidato, do seu programa político e dos princípios do seu partido. Eleição é isso: debate de idéias e não uma corrida de cavalos. Uma dinâmica por performance. E o quê queria o sistema Globo com o Paulo Ramos?

Queria que o Paulo abdicasse do direito de debate de suas idéias em torno de critérios dos Institutos de Pesquisa. A Globo só realizaria debate com cinco candidatos e no Rio eram 13 candidatos, sendo 10 de partidos com representação no Congresso Nacional. O Paulo não aceitou, aquilo era o fim da política e da democracia segundo nos disse. A Globo argumentava que debates com muitos candidatos perdem a eficiência e, então, o Paulo Ramos sugeriu dois debates em dias diferentes, com um número mais reduzido de candidatos escolhidos por sorteio em cada um dos programas de modo que todos candidatos mostrassem suas idéias. Como sabemos a TV Globo é uma concessão do Estado Nacional e esta instituição, Estado, é uma organização política do povo brasileiro.

A Globo não fez o debate em várias capitais pelo mesmo motivo. O eleitor perdeu uma janela de convicção e a Globo mais uma vez mostrou o vício do autoritarismo e do espírito pouco democrático que o oligopólio das comunicações lhe oferece. Agora voltemos aos critérios da matéria sobre a briga dos institutos em razão de seus erros. O Datafolha e o IBOPE erraram feio em vários lugares a ponto de um especialista no assunto, citado pelo jornal, Antonio Villa dizer: as pesquisas são fontes importantes para democracia, são parte do processo eleitoral. Podemos chegar a 2010 em uma situação de descrédito sobre as pesquisas de opinião, o que é muito negativo. E a fala dos institutos? Parece confissão de uma quadrilha se acusando quando são pego pela justiça.

Sobre o Rio de Janeiro o diretor do IBOPE acusa o Datafolha de criar a onda pró Gabeira. Segundo uma diretora do IBOPE o datafolha subiu a estratificação social da sua amostra para pegar mais a classe média onde se encontrava o voto Zona Sul do Gabeira e deste modo induzir a migração de votos dos candidatos de esquerda para o candidato de sua preferência. A idéia, na verdade executada pelo sistema Globo e pela Folha de São Paulo, visava retirar o Bispo Crivella do segundo turno. Assim, pela primeira vez, manipuladores se confessam em público.

Outra idéia, agora de inteira responsabilidade dos jornais, televisões e rádios é tratar as pesquisas como "prognósticos" e não como "tendências". Nestas duas palavras é que reside o conceito de manipulação como todos sentiam. Na verdade os meios de comunicação tratam a pesquisa como prognóstico, não falam em tendência, não criaram uma linguagem para tendência e nem para a enorme margem de erro. Isso é tão mais verdade ao se retornar ao caso Paulo Ramos: o sistema Globo queria que ele entregasse seus pontos políticos para os "prognósticos" do IBOPE que afinal é um velho cliente do mesmo sistema.

O mais grave de toda a manipulação do sistema Globo é que já às vésperas do pleito soltaram uma nota de má fé falando em liberdade de imprensa e critério jornalísticos. O critério jornalístico é o próprio, a seleção do IBOPE a serviço da Globo e a liberdade de imprensa é o ataque da Globo a uma lei federal que protege a igualdade no debate eleitoral. E quando a Globo tenta se justificar em viva voz a conversa é que nos EUA o critério é o que eles, a Globo, querem impor ao Brasil. É possível nesta altura na nossa maturidade democrática aceitarmos lições do bipartidarismo americano?

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