TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 1 de novembro de 2008

Crônicas do Sítio Rosto e Adjacências


Devolve

pelo Bruxo do Sítio Rosto

Quando cheguei ao Rio de Janeiro em 1973, em pleno regime militar, para fazer Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, fui me adentrado nos meandros das teorias marxistas, justamente por estar fazendo o curso de Ciências Sociais. Eu lia as teorias, através de textos que, depois de lidos, rasgava, ou melhor, triturava e fazia descer descarga abaixo, após decorá-lo. Inda hoje sei de cor passagens da Ideologia Alemã, lido em espanhol, livro brochura, de capa verde e papel jornal, emprestado sob mil cuidados, por colegas barbudos e fugidios.
Fiquei assombrado quando fui apresentado, numa salinha do Diretório Acadêmico ao poeta, escritor, jornalista, artista, compositor e comunista Mário Lago, que ia fazer a apresentação do especial “Som Brasil”, na concha acústica da Uerj, em 1977. Eu estava diante de um homem que seria a encarnação da teoria marxista na prática. Pronto, aqui está o homem que é a favor da luta de classes, da ditadura do proletariado, da socialização dos meios de produção, etc., etc., etc.
Foi ai que me lembrei de quando tinha 16 anos, e ajudava Raimundo Siebra, que ainda está muito bem vivo, e era operador do Cine Educadora e controlista da Amplificadora Cratense, que funcionava numa salinha contígua à casa de Pedro Teles, na Praça da Sé. Ele me deixava muitas vezes na responsabilidade de botar a amplificadora no ar e fazer toda a programação da manhã. Um belo dia eu li num disco de 78 rotações o título de uma música que era muito solicitada na programação da “Hora da Saudade” nas rádios locais.

Era a música “Devolve”, e seu autor, Mário Lago. E agora, como entender a suntuosa dureza da estética marxista com a singeleza dos versos do comunista Mário Lago! Pois é, de lá pra cá a Antropologia me ensinou a relativizar força e ternura. Mas, vamos degustar a poesia de Mário Lago, numa das letras mais perfeitas da Música Popular Brasileira:

Devolve
(Música e letra de Mário Lago, com Carlos Galhardo)

Mandaste as velhas cartas comovidas,
Que na febre do amor te enviei;
Mandaste o que ficou de duas vidas:
O romance, uma dor que provei...
Mandaste tudo, porém,
Falta o melhor que te dei:

Devolve toda a tranqüilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci
Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti

Um comentário:

socorro moreira disse...

"Devolvi ...
A aliança e a medalha de ouro
E tudo ,
que ele me presenteou
Devolvi
suas cartas amorosas
e as juras mentirosas....
.........................
Devolvi tudo ...
Só não pude devolver
a saudade cruciante
que amargura o meu viver ."


Tudo se encontra ,
numa saudade infinda !
É assim quando um amor termina !


P.S. Amo Mário Lago !
Foi uma lembrança muito feliz ,
Armando .