Dos armistícios
Logo ali
Por trás da garrafa de café
Seca e em pura solidão
Havia uma tensão renomada
Olhos untados na gordura dos bordéis
Passaram-se três dias
Os muros procurando o céu
E tudo o que é pertencido permanece
Mais triste ainda
A cidade tenta se proteger
Dos próprios rastros
Rasteja e se confina em retalhos
Diante do grande portão
Está e esteja sempre com um
Palmo de língua para fora
Salgando os salmos com o suor
Da leitura dos seus saldos
Logo ali
Nas estrias da vigília
Acima dos fracos
E abaixo dos inocentes
Amauri Caolho vê com a sua
Única possibilidade um bando de ratos
Cruzando o bosque de sucatas
Estão indo embora sob nenhuma mira
Já é tarde
Não levaram as pulgas
Deixaram todas para nós
Disse cuspindo em distância
Depois de mascar o próprio siso
9 comentários:
É pra engasgar de riso, mascar o próprio siso.
Marcos , poeta notável !
O Marcos Leonel é CRUEL com sua poesia ferina! Sua língua é incansável. A poesia dele reflete os seus textos, que consegue dizer em linguagem poética o que consegue tão bem dizer em prosa. De forma parecida na intenção, é o do poeta Wilson Bernardo, embora às vezes é difícil compreender exatamente o que aquele quer dizer ( creio que ele mesmo também rs rs ).
Abraços,
Dihelson Mendonça
Como de algum modo já disse o Dihelson. A prosa e a poesia destas duas postagem do Leonel falam do mesmo. Desta urbanicidade latino-americana, semi-alguma coisa, nunca conformada em urbe. Uma urbanicidade que ainda funciona tal qual aquelas fronteiras de desenvolvimento, em que tudo pode, a aventura é a lei, o impoderável começa à meia noite e completa o ciclo das 24 horas sem intervalos.
Outra faceta do Leonel. Ele é um homem correto, com alto senso de moralidade e ética (não ética normativa, mas ética da alteridade) e muitos se confundem com a facilidade com a qual em linguagem atual desmonta certas verdades. Na verdade é um homem, pelo que depreendi dele, com uma religiosidade carnal, apregada ao mundo, mas uma verdade transcendente. Como reconhece a fragilidade contemporânea, abre-se para o iconoclástico, para este papel de tornassol que revela a indisfarçada hipocrisia cotidiana. Mas até aí vai o Leonel. Quando ele fala por ele mesmo é um homem muito sério e com suas verdade não brinca.
Por último. Leonel, tem um achado poético nesta tua postagem que merece um aprofundamento de tua parte. Se trata da verticalidade do muro que se remete ao céu. Eis algo que é comumente trabalhado em filosofia a nas religiões: quando se verticaliza o olhar para os céus, é que muros barraram a visão do horizonte.
Imagem ardentemente melancólica.
Um ritmo indiferente ao tempo.
Magia.
Um abraço, meu camarada.
A imagem do muro é realmente interessante, tratei disso num poema que dizia"com meus egos combatidos por mim, os meus muros serão escalados pelos outros com menor dificuldade" e isso é bom, estarei menos egoísta, permitirei derrubarem meus muros...na verdade não fiz muros à minha volta, tenho sido transparente, até demais...
José do Vale, de olhar profundo, nada taciturno, tudo preciso. Seu comentário me basta, tal a sua habilidade em conhecer o ser e suas coisas.
Grande escritor, a verticalidade é essa mesma, criada aos poucos e despojadamente. A cidade sitiada por ela mesma torna-se a sombra da réstia, o soluço da falta de choro. É quando os brinquedos estão aos cacos e os risos mordem.
grande abraço
Domingos,
a magia é inteiramente sua, poeta em que me inspiro constantemente.
Poeta, eu não bebo mais, mas no dia em que a gente se encontrar outra vez, depois de tanto tempo, a gente toma um vinho largo.
abraços
Marta, cadê esse poema?
Vai matar a gente de curiosidade?
abraços
Marcos, esse poema foi publicado no dia 31 de outubro aqui mesmo, volte e releia, qualquer dúvida...disponha.
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