Falando que tais nuvens pairam sobre a África, o papa Bento XVI exortou os Angolanos a uma “transformação emocional e uma nova forma de pensamento”. Abordando a guerra civil, a questão da mulher (a base da economia familiar), práticas como a bruxaria e a corrupção, o Papa como que deu a agenda de tal transformação. Antes havia levantado a questão do preservativo e depois do aborto como forma de controle da natalidade (vejam bem, é o que a mídia deu: controle da natalidade). Não abordo as repercussões negativas de sua indevida interferência na questão da prevenção da AIDS, isso já foi devidamente tocado por todos. Volto à agenda.
Pegando por último: a corrupção. É quase uma falácia abordar a corrupção como uma forma apenas de desvio moral. Isso é uma face dela, aquela da ruptura das regras gerais do patrimônio econômico social e privado. A questão moral se encontra mesmo é nos modelos econômicos de premiação do mais capaz, do jogo em que o vencedor leva tudo, na modalidade em que a exploração do ser humano é o lucro que arrasta o outro à miséria. Afinal o ser humano continua materialmente dependente dos recursos da sua produção. “Uma transformação emocional e uma nova forma de pensamento” passa exatamente por isso, a corrupção é apenas uma contradição moral. Contradição, pois seria corrupta a quebra de regras de exploração de um pelo outro? Seria corrupto libertar escravos? Essa é a questão moral que o Papa terá de aprofundar nesta agenda.
A guerra civil abordada por Bento XVI tem profundos vínculos com o passado de sua própria igreja e as recentes dinâmicas como o neocolonialismo europeu age sobre o continente africano. A igreja católica ajudou as forças dos séculos XV a XIX a exportar escravos para a colonização das Américas e servir de mão-de-obra nas ruas das capitais européias. No século XX não se afastou do anacronismo colonial até muito depois da segunda guerra mundial. A igreja católica é parte desta herança histórica. A guerra civil Angolana foi um jogo de grandes potências por um lado (ao tempo da guerra fria), mas perdurou pela ação dos velhos exploradores de suas riquezas minerais, especialmente dos diamantes que adornam o pescoço de muita gente em quem o vaticano faz o sinal em torno de seu abençoado progresso. Se o alerta para as nuvens negras fala a respeito disso, é de se esperar que a grandeza do sentido moral do Papa esteja na vanguarda da ruptura contra isso tudo. É isso mesmo que se espera de Bento XVI?
Quanto à defesa da honradez do papel da mulher Angolana será um discurso vazio se não pensar em algo que efetivamente a valorize. Ir mais além, é realizar a crítica ao papel da mulher no atual sistema mundial de produção. Além de desonerá-la da economia que a sustenta (a sustentação familiar pela economia rural), libertá-la do atual papel em que a mesma se encontra atolada. E falar nisso na atual situação angolana é avançar na crítica a um pretérito em que certamente a mulher receberá novas formas de exploração nas cidades. As periferias das grandes cidades pelo mundo todo estão plenas de mulheres em situação de risco, exploradas no trabalho, solidão familiar no sustento da família, gravidez indesejadas, numerosos filhos por falta de acesso a recursos de controle da natalidade (mas a resposta moral mais avançada é controlar a sua sexualidade), doenças sexualmente transmissíveis, falta de previdência social, educação e saúde. Por isso, mesmo para um bem formado teólogo europeu o condão do discurso é tão torto assim. De fato a Europa se encontra numa pequenez histórica jamais vista ou numa foi tão grande o quanto imaginamos?
Finalmente a bruxaria. A se fosse apenas uma nova regra nos mitos dos povos bantos, uma regra de maior respeito ao indivíduo e sua integridade. O mote é que na bruxaria angolana crianças seriam sacrificadas. Mas o papa fatalmente joga com o sacrifício da própria cultura angolana em face do proselitismo católico no continente. E o povo Angolano, abandonando as velhas formas de vida, os seus mitos ancestrais e migrando para zonas urbanas tem sido presa fácil do cristianismo europeu em larga escala. Um dos lugares em que a Igreja do Bispo Macedo mais cresceu foi justamente neste país. Por isso a agenda do Papa não é uma agenda de libertação em sentido exato, é sobretudo o doutrinação católica como superação da própria religiosidade do povo banto. Não entenda que se advogue o congelamento de qualquer cultura ou qualquer instituição. Apenas dizer que a superação de formas anacrônicas num determinado momento ocorre exatamente pela riqueza da alternativa. A transformação que contribui para a diversidade, para a pluralidade ao invés da verdade única dogmatizada.
Pegando por último: a corrupção. É quase uma falácia abordar a corrupção como uma forma apenas de desvio moral. Isso é uma face dela, aquela da ruptura das regras gerais do patrimônio econômico social e privado. A questão moral se encontra mesmo é nos modelos econômicos de premiação do mais capaz, do jogo em que o vencedor leva tudo, na modalidade em que a exploração do ser humano é o lucro que arrasta o outro à miséria. Afinal o ser humano continua materialmente dependente dos recursos da sua produção. “Uma transformação emocional e uma nova forma de pensamento” passa exatamente por isso, a corrupção é apenas uma contradição moral. Contradição, pois seria corrupta a quebra de regras de exploração de um pelo outro? Seria corrupto libertar escravos? Essa é a questão moral que o Papa terá de aprofundar nesta agenda.
A guerra civil abordada por Bento XVI tem profundos vínculos com o passado de sua própria igreja e as recentes dinâmicas como o neocolonialismo europeu age sobre o continente africano. A igreja católica ajudou as forças dos séculos XV a XIX a exportar escravos para a colonização das Américas e servir de mão-de-obra nas ruas das capitais européias. No século XX não se afastou do anacronismo colonial até muito depois da segunda guerra mundial. A igreja católica é parte desta herança histórica. A guerra civil Angolana foi um jogo de grandes potências por um lado (ao tempo da guerra fria), mas perdurou pela ação dos velhos exploradores de suas riquezas minerais, especialmente dos diamantes que adornam o pescoço de muita gente em quem o vaticano faz o sinal em torno de seu abençoado progresso. Se o alerta para as nuvens negras fala a respeito disso, é de se esperar que a grandeza do sentido moral do Papa esteja na vanguarda da ruptura contra isso tudo. É isso mesmo que se espera de Bento XVI?
Quanto à defesa da honradez do papel da mulher Angolana será um discurso vazio se não pensar em algo que efetivamente a valorize. Ir mais além, é realizar a crítica ao papel da mulher no atual sistema mundial de produção. Além de desonerá-la da economia que a sustenta (a sustentação familiar pela economia rural), libertá-la do atual papel em que a mesma se encontra atolada. E falar nisso na atual situação angolana é avançar na crítica a um pretérito em que certamente a mulher receberá novas formas de exploração nas cidades. As periferias das grandes cidades pelo mundo todo estão plenas de mulheres em situação de risco, exploradas no trabalho, solidão familiar no sustento da família, gravidez indesejadas, numerosos filhos por falta de acesso a recursos de controle da natalidade (mas a resposta moral mais avançada é controlar a sua sexualidade), doenças sexualmente transmissíveis, falta de previdência social, educação e saúde. Por isso, mesmo para um bem formado teólogo europeu o condão do discurso é tão torto assim. De fato a Europa se encontra numa pequenez histórica jamais vista ou numa foi tão grande o quanto imaginamos?
Finalmente a bruxaria. A se fosse apenas uma nova regra nos mitos dos povos bantos, uma regra de maior respeito ao indivíduo e sua integridade. O mote é que na bruxaria angolana crianças seriam sacrificadas. Mas o papa fatalmente joga com o sacrifício da própria cultura angolana em face do proselitismo católico no continente. E o povo Angolano, abandonando as velhas formas de vida, os seus mitos ancestrais e migrando para zonas urbanas tem sido presa fácil do cristianismo europeu em larga escala. Um dos lugares em que a Igreja do Bispo Macedo mais cresceu foi justamente neste país. Por isso a agenda do Papa não é uma agenda de libertação em sentido exato, é sobretudo o doutrinação católica como superação da própria religiosidade do povo banto. Não entenda que se advogue o congelamento de qualquer cultura ou qualquer instituição. Apenas dizer que a superação de formas anacrônicas num determinado momento ocorre exatamente pela riqueza da alternativa. A transformação que contribui para a diversidade, para a pluralidade ao invés da verdade única dogmatizada.
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