O coração, uma valise
onde a cidade se esconde,
suas ruas avermelhadas,
o sangue de muitos homens.
Se coloca a mão, um corte na lâmina
do olho da mulher que cruza a rua
e não cabe em todo o desejo
por sua pele e sua boca, ela toda nua.
O coração sufocado em inadiável trânsito,
carros sobre as artérias.
Alguém quer respirar.
Quer amor.
Quer álcool,
enquanto a lua não rompe a fumaça,
breve manto sobre apartamentos
enrodilhados em sonhos.
Quem trouxe o coração
não se lembrou de juntar uma larga avenida,
toda ela de compaixão,
maior do que a Paulista.
O coração se ressente, o barulho dos motores,
um travesti assassinado no canto da noite
com seus tons de chumbo;
uma puta, cuja bolsa ficou no táxi
quando saltou descalça na R. Augusta.
Conquistariam a cidade em meio metro de calçada,
no mês de agosto,
mas cada calçada é uma cilada.
A valise se aperta, se dilata.
O choro de alguém na porta do teatro.
Que barulho é esse? Tiros?
Não!
Motocicleta transportando morto?
O corpo no asfalto, o coração aberto,
a cidade espalhada por todo lado
parece tão longe, quando é tão perto...
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