TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 2 de maio de 2009

Belchior - o primeiro cristão; o primeio tolo

Nesse momento chove aqui. Não me importo. Não me importa a chuva em tetos alheios, nem muito menos o riso sem vida alguma da garota que atravessa a rua enquanto rebola – ela já perdeu a manha, a sedução travada nos gestos de puta de filme; a roupa colada e o excesso de peitos; excessiva, sem graça.

Prefiro a aluninha de tatuagem na coxa - um símbolo asteca encerrando na virilha meus desejos silenciosos. O riso mais leve, doce. Aquela postura de bailarina e o pescoço de garça.

Caos no fim de meu sábado. Acabo de me encontrar só, com as mesmas músicas de sempre – sempre são as mesmas, não corro riscos quando a onda é botar pra foder e estremecer as paredes vizinhas com alguma coisa que não seja a mesma ladainha pagodeira de sempre.

Que tal botar fogo na casa? Que tal deixar uma panela de água, deitar no sofá com um cigarro na boca e curtir o vazio das paredes, com seus quadros tão óbvios?

Tenho textos a devorar. Horas a perder e um tempo somente meu. Perdi a lógica. Pagão, missionário: pouco me importa. O que sei e o que vejo me interessam muito mais, quando tal visão atravessa a pupila dilatada e furiosa. A serviço do mesmo caos que tanto louvo, em dias assim. Felicidade é um troço quente, já dizia o tal bigodão do Belchior, um dos três magos que viram a civilização cristã nascer, enquanto seguiam um cometa.

Ou seria uma estrela "decadente"?

Pelo andar da carruagem. Pelo que suponho ser o real, era a porra de uma estrela mesmo.

Estou só. Feliz e só. Sóbrio, na medida do que a vida me mostra ser o que vale a pena – a raiva, o medo, a velocidade, os poemas que não terminei e os livros abertos e largados por cima da cama. O riso de meu filho no dia de hoje.

A salvação. Que é tão somente uma escolha entre o sim e o não. Apenas uma chance e revolucionamos velhos alicerces, metendo-lhes bombas de felicidade sincera. E de uma raiva salutar, providencial, única.

Ensaio uma resposta. E penso na doce menina que me passou o telefone. Cheia de promessas para o domingo que se aproxima – morder aquele pescoço e esquecer a estrela dos reis magos que iniciaram toda essa confusão que vejo nos jornais. É o que quero.

É meu desejo mais legítimo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostoso ler este texto no final da tarde de um feriado que não me alegra muito. É sempre um prazer ouvir (ou ler) pessoas que pensam e não somente reproduzem 'ideias' da tv. Queria ter o pescoço tão belamente desejado, mas, infelizmente, fecho os olhos para não perceber que o tempo esfria o amor ou torna as pessoas frias. Num sei ao certo. Prefiro não parar pra pensar. Parabéns para o autor. Maria Flor

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu Gustavo,
grande texto.

Recebi o seu livro, li e gostei muito. Em breve, farei uma resenha aqui, nada breve.

abraços