TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 30 de maio de 2009

"Conselho"

Guardarás um poema
em teu bolso
com linhas mansas
urdidas com o silêncio
da cúpula da catedral
onde se acumulam preces
e ferrugem nas palavras

De nada servirá
espalhá-lo nas ruas
ele em mil pedaços
como as ruas
não passará de grãos
sob os pés de ligeiros passos
pés de aço que desenham
o caminhar desta cidade

Guarda o poema
antes que olhos de fogo
o queimem
que seja lambido
por uma língua áspera
e cada verso derreta-se
evapore-se
música que se acaba
na tarde que arde
desta ardilosa cidade

Afinal, para que serve um poema?

4 comentários:

Marta F. disse...

Uma dica a uma fiel sacerdotisa?

Seu texto está um luxo!
Conselho sábio.

Grande abraço.

Marta F. disse...

Acrescento palmas à curiosidade deste poema porte médio com apenas 4 frases.

Beijo, Chagas.

Marta F. disse...

Se esse poema de Chagas fosse escrito na horizontal, daria exatamente 4 frases longas, foi o que quis dizer.

(Achei que ficou difuso o comentário anterior. Obrigada.)

chagas disse...

Marta, eu parto da idéia de que um poeta sempre escreve para outro poeta. Por isso que o poema talvez tenha ares de "uma dica".

Gostei que você gostou.

Um beijo.