TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 5 de maio de 2009

Uma pequena reflexão sobre o Bolsa Família.

Sobre os mais pobres recaem os piores preconceitos. Não bastasse a dura vida que levam, quando existe alguma possibilidade de aliviar o sofrimento, sempre aparecem os incomodados, aqueles que quando tiveram o poder político em suas mãos, nunca fizeram nada para essa camada da população e que agora, momentaneamente alijados do poder político executivo central, tecem suas análises sobre o "populismo" e com jocosidade elegem o programa Bolsa Família como "bolsa esmola".
Em certa época de nossa história, o voto era censitário. Felizmente, isso acabou. Hoje em dia, tem que se lutar para que as pessoas possam comer, isso em um país rico como é o Brasil.
O jornalista Luis Nassif, aquele mesmo que enfrenta a poderosa Editora Abril, nos brinda com uma reflexão sobre o Bolsa Família.
Incompreensões em torno do Bolsa Família
"Há uma enorme incompreensão que ainda remanesce em relação ao Bolsa Família.
A maior delas é em torno de uma dicotomia inexistentes: em vez de dar esmola o Estado deveria dar emprego.
Primeiro, não são políticas excludentes. Dá-se a base de sustentação mínima e oferece-se emprego.
Segundo, políticas de desenvolvimento - e de aumento de emprego - são inócuas sobre a base da pirâmide, se não vier acompanhadas de políticas de inclusão.
Numa ponta, tem-se a questão regional, os bolsões de pobreza. Essas regiões não se desenvolvem porque não tem consumo; não tendo consumo não atraem empresas; não atraindo empresas, não geram empregos.
Esse círculo vicioso está sendo rompido nas regiões mais pobres graças ao Bolsa Família e à Previdência Social. Criaram-se as bases para um consumo popular que estimulou empresas a investirem no atendimento à nova demanda. Em muitos lugares, o passo seguinte já foi dado, de instalação de empresas para atender à região.
Os valores da Bolsa e da aposentadoria são irrisórios mas permitiram uma estabilidade de ganhos. O que caracteriza a renda dos muito pobres, além do pequeno valor, é a inconstância do recebimento. Como não estão no mercado formal, dependem de bicos. Essa instanilidade impedia qualquer forma de comprometimento de renda com crédito. A Bolsa Família e a melhora nos benefícios da Previdência forneceram esse colchão mínimo. Com isso, a baixa renda pode ir às compras - a maior parte dos gastos, aliás, em alimentos e produtos de limpeza, mas parte em bens de consumo durável.
O segundo ponto é a inclusão dos miseráveis no mercado de trabalho. Também aí há uma incompreensão do que seja a miséria absoluta. E reflete a visão preconceituosa de que a miséria é fruto da vagabundagem.
A miséria absoluta é uma questão cultural. O sujeito vive na miséria porque aprendeu a viver apenas na miséria. Não tem noção do que seja sair da miséria. Aceita a condição como se fosse uma inevitabilidade.
O Bolsa investe em portas de saída do programa. A parceria com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) mostra isso. Mas não se esperem resultados auspiciosos com os miseráveis. O máximo que se conseguirá, apertando as condicionalidades de colocar os filhos na escola, será salvar dessa tragédia a geração dos filhos.
Portanto espere-se da Bolsa Família o que ela pode dar: impedir a fome (só isso já seria suficiente para legitima-la); impedir a desagregação familiar; estimular a matrícula das crianças na escola.
A consolidação final do Bolsa Família será transformá-la em um ativo do Estado, do atual estágio da civilização brasileira e não um feito pessoal do governo Lula. Caso contrário, se entrar outro partido no poder, a tentação será “refundar” o Brasil. Essa é a verdadeira tragédia brasileira, praticada por todos os partidos independentemente de escolaridade."


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