Os puristas preferem os termos comum e trivial, entre outros, pois consideram banal um galicismo. A verdade é que para o que desejo aqui o principal significado de banalidade me é útil: “utilização, livre ou forçada, pelos vassalos de coisas pertencentes ao senhor feudal, mediante pagamento”. Não sendo essencial aos vassalos, no entanto utilizam atrelados a uma fonte de renda para o senhor.
Hoje em setores da classe média, pelo menos aqui no Rio, não é incomum se ouvir dizer: fulano é do bem e beltrano do mal. Usado como regra classificatória das pessoas com que se relacionam. A literatura e os meios de comunicação têm uma carga importante da expressão “banalidade do mal”.
Acontece que o “mal” sequer é um antônimo perfeito para o vocábulo “bem”. Nem no sentido substantivo da palavra: mesmo que se refira à desaprovação ou censura de atos, o vocábulo mal tem a noção de ação como oposição e modificação embutidas no termo, pois é tudo aquilo que a vontade tem o direito de assim agir (opor e modificar).
Além do mais ao se referir à “banalidade do mal”, estamos generalizando o que em regra já é em si particular: são conhecidos, filosoficamente, três males, o metafísico, o físico e moral. No primeiro sentido na imperfeição, o segundo no sofrimento e o terceiro no pecado. Acontece que é no sentido moral que se utiliza com mais clareza quando o identificamos ao comum nos tempos de hoje: fazer o mal.
Quanto ao bem o que mais temos como significado universal do termo é sua natureza laudativa como juízo de apreciação. Aplica-se ao passado e ao futuro, ao consciente e ao inconsciente, ao voluntário e ao involuntário. Então como natureza adjetiva, o bem é um objeto de satisfação e aprovação em qualquer ordem de finalidade.
Já como natureza substantiva, tomando como continente o sentido de bem-estar, das três acepções possíveis, o que é útil para dado fim; bem-estar propriamente dito e normativo de ordem ética é neste último sentido que se encontra a discussão da banalidade. Pois estamos falando de valor moral tanto categórico (o bem) quanto derivado (um bem). Ele se refere ao ato e não à intenção: o que se aprova dos atos executados ou em relação ao futuro o que se deve fazer.
Estamos falando de regras, históricas, em sociedades de classes, em instituições assimétricas e desiguais. Em instituições que servem à ordem das classes. Portanto não se pode simplesmente parar a compreensão na enunciação da banalidade do bem e do mal. Em termos humanos muito mais tem que se dizer. Nem mesmo no sentido filosófico mais geral, se consegue extrair o senso da particularidade, pois o homem não é literalmente o mesmo em todas as classes e culturas.
Quando os gregos pensavam no bem como aquele que é bom em si mesmo não conseguia eximir o regime de cidadãos e escravos. Igualmente Kant na filosofia moderna com um bem tal que satisfaça o homem inteiramente tanto em razão, sensibilidade e atividade.
Mesmo quando na ética tomista se falava em Bem Comum como meio de “avaliar a justiça das organizações sociais, legais e políticas em relação ao crescimento de todos na comunidade”, estava-se particularizando dois ou mais indivíduos. A questão mesmo é que o bem é aquilo que temos necessidade, aquilo que nos satisfaz. O bem por excelência é a terra e depois uma posse qualquer.
Num mundo de propriedade privada, de acumulação de satisfações em classes sociais e numa pluralidade a toda prova não é possível restringir-se a compreensão social à mera questão do bem e do mal. A questão continua na política. E o que é política?
Em Hannah Arendt: “A política se baseia na pluralidade humana”. Não é, portanto, uma substância humana em si, ela apenas “surge entre os homens; portanto, absolutamente fora do homem.” Também os homens não são produtos de Deus (com regras morais atemporais e universais) mas “produto humano, terreno, um produto da natureza humana”. E a escritora completa: “Política diz respeito à coexistência e associação de homens diferentes. Os homens se organizam politicamente segundo certos atributos comuns essenciais existentes em, ou abstraídos de, um absoluto caos de diferenças.”
Por isso a simplificação classificatória apenas tolhe a compreensão.
Hoje em setores da classe média, pelo menos aqui no Rio, não é incomum se ouvir dizer: fulano é do bem e beltrano do mal. Usado como regra classificatória das pessoas com que se relacionam. A literatura e os meios de comunicação têm uma carga importante da expressão “banalidade do mal”.
Acontece que o “mal” sequer é um antônimo perfeito para o vocábulo “bem”. Nem no sentido substantivo da palavra: mesmo que se refira à desaprovação ou censura de atos, o vocábulo mal tem a noção de ação como oposição e modificação embutidas no termo, pois é tudo aquilo que a vontade tem o direito de assim agir (opor e modificar).
Além do mais ao se referir à “banalidade do mal”, estamos generalizando o que em regra já é em si particular: são conhecidos, filosoficamente, três males, o metafísico, o físico e moral. No primeiro sentido na imperfeição, o segundo no sofrimento e o terceiro no pecado. Acontece que é no sentido moral que se utiliza com mais clareza quando o identificamos ao comum nos tempos de hoje: fazer o mal.
Quanto ao bem o que mais temos como significado universal do termo é sua natureza laudativa como juízo de apreciação. Aplica-se ao passado e ao futuro, ao consciente e ao inconsciente, ao voluntário e ao involuntário. Então como natureza adjetiva, o bem é um objeto de satisfação e aprovação em qualquer ordem de finalidade.
Já como natureza substantiva, tomando como continente o sentido de bem-estar, das três acepções possíveis, o que é útil para dado fim; bem-estar propriamente dito e normativo de ordem ética é neste último sentido que se encontra a discussão da banalidade. Pois estamos falando de valor moral tanto categórico (o bem) quanto derivado (um bem). Ele se refere ao ato e não à intenção: o que se aprova dos atos executados ou em relação ao futuro o que se deve fazer.
Estamos falando de regras, históricas, em sociedades de classes, em instituições assimétricas e desiguais. Em instituições que servem à ordem das classes. Portanto não se pode simplesmente parar a compreensão na enunciação da banalidade do bem e do mal. Em termos humanos muito mais tem que se dizer. Nem mesmo no sentido filosófico mais geral, se consegue extrair o senso da particularidade, pois o homem não é literalmente o mesmo em todas as classes e culturas.
Quando os gregos pensavam no bem como aquele que é bom em si mesmo não conseguia eximir o regime de cidadãos e escravos. Igualmente Kant na filosofia moderna com um bem tal que satisfaça o homem inteiramente tanto em razão, sensibilidade e atividade.
Mesmo quando na ética tomista se falava em Bem Comum como meio de “avaliar a justiça das organizações sociais, legais e políticas em relação ao crescimento de todos na comunidade”, estava-se particularizando dois ou mais indivíduos. A questão mesmo é que o bem é aquilo que temos necessidade, aquilo que nos satisfaz. O bem por excelência é a terra e depois uma posse qualquer.
Num mundo de propriedade privada, de acumulação de satisfações em classes sociais e numa pluralidade a toda prova não é possível restringir-se a compreensão social à mera questão do bem e do mal. A questão continua na política. E o que é política?
Em Hannah Arendt: “A política se baseia na pluralidade humana”. Não é, portanto, uma substância humana em si, ela apenas “surge entre os homens; portanto, absolutamente fora do homem.” Também os homens não são produtos de Deus (com regras morais atemporais e universais) mas “produto humano, terreno, um produto da natureza humana”. E a escritora completa: “Política diz respeito à coexistência e associação de homens diferentes. Os homens se organizam politicamente segundo certos atributos comuns essenciais existentes em, ou abstraídos de, um absoluto caos de diferenças.”
Por isso a simplificação classificatória apenas tolhe a compreensão.
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