ARY BARROSO
Por Zé Nilton
Longe de querer sustentar o bordão por demais repetido no linguajar do povão de que ‘ filho de peixe, peixinho é’. Pouca é a força do determinismo popular, porque na vida as coisas não ocorrem sempre assim. Sou mais pela crença de que o ambiente pode produzir, despertar, estimular, inculcar certos traços cognitivos, permitindo ao sujeito certa facilidade ao abraçar uma arte, uma profissão, um caminho qualquer, ou mesmo não seguir nenhuma ou nenhum.
No campo da arte musical e da poesia há um sem número de exemplos da importância do meio, primeiro o familiar, na construção do grande músico, do refinado poeta, do gênio em qualquer arte.
Vejamos, por exemplo, Chico Buarque. Ambiente familiar de pesquisa, de leitura, de música, de boêmia... criou as condições para ele, que quis ser compositor, poeta e escritor desenvolver suas artes com tamanha criatividade e vanguardismo, a ponto de tornar-se, à sua revelia, uma unanimidade nacional.
Igualmente ocorreu com Tom Jobim e tantos outros.
Com Ary Barroso não foi diferente. A família extensa na qual nasceu e viveu até os 17 anos, na cidadezinha de Ubá – MG, seu pai era músico e boêmio; suas tias, pianistas e seus tios poetas e oradores, sendo, um deles, Sabino Barroso, além de exímio orador, ministro da Fazenda e presidente da Câmara Federal, no governo de Venceslau Brás.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, em 1920, com 17 anos, Ary Barroso trazia uma pequena bagagem musical. Aprendera com uma de suas tias, a Ritinha, “debaixo de pau”, os primeiros rudimentos de piano. Em seguida, andou tocando em cinema mudo e em bares de sua cidade, iniciando uma vida boêmia e profissional.
Diferente de Tom Jobim, ele iniciou sua escalada como músico, tocando peças de músicas populares. Chegou a tocar música clássica, mas essa não era o seu forte.
No Rio, como sói acontecer com muitos que para ali foram enfrentar a vida, passou por muitas necessidades. Ingressa no curso de direito, na Universidade do Brasil, no entanto, igualmente a tantos outros, termina por sobreviver entre a música e a dureza dos estudos.
Conclui a faculdade e acha a atividade de advogado muita estática. Ary Barroso era uma pessoa muito versátil, para não dizer, inquieta e intranquila.
Dedica-se, de uma vez, na arte da música, e envereda pelos palcos com peças teatrais de sua autoria ou por ele musicadas. Ganha fama na capital do Brasil.
Um homem de sete instrumentos. Músico, compositor – responsável pela modernização da MPB – teatrólogo, ator, apresentador de auditório e, com muito entusiasmo e valentia, locutor esportivo. As peripécias de Ary como apresentador, ou melhor, descobridor de talentos – Luiz Gonzaga foi um deles – e locutor esportivo são muito interessantes, e diz dos difíceis começos da radiofonia no Brasil.
Torcedor intransigente do Flamengo gostava de contar para os vascaínos, o dia em que o time do Vasco foi convidado a enfrentar, num misto com o Flamengo, um time de Buenos Ayres. Até aí, tudo bem. O engraçado da história é que o Vasco da Gama aceita vestir a camisa do Flamengo nesse amistoso internacional. Tempos bons aqueles em que as torcidas se respeitavam.
Falaria muito desse grande compositor brasileiro. A História de vida de Ary Barroso engrandece não só a ele, mas a História da Música Popular Brasileira, por representar o marco por excelência entre duas gerações de músicos consagrados, que fizeram e fazem da nossa música a mais diversa e melodicamente rica e encantadora, cuja fama corre mundo a fora.
Nesta quinta-feira, no Programa Compositores do Brasil, será a vez de homenagearmos o compositor Ary Evangelista de Rezende Barroso. Falaremos um pouco de sua trajetória e ouviremos algumas de suas mais expressivas melodias, que jamais saíram ou sairão da boca do povo.
É luxo só, de Ary Barroso, com João Gilberto.
No rancho fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo, com Elizeth Cardoso
Boneca de piche, de Ary Barroso, com Carmem Miranda e Almirante
Na batucada da vida, de Ary Barroso, com Elis Regina
Na baixa do sapateiro, de Ary Barroso, com O Bando da Lua
Folha morta, de Ary Barroso, com Jamelão
No tabuleiro da Baiana, de Ary Barroso, com Carmem Miranda e Luiz Barbosa
Faceira, de Ary Barroso, com Zé Renato
Três lágrimas, de Ary Barroso, com Roberto Silva
Quando eu penso na Bahia, de Ary Barroso, com Caetano Veloso
Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, com Erasmo Carlos
Risque, de Ary Barroso, com Dircinha Batista
Morena boca de ouro, de Ary Barroso, João Gilberto
Camisa Amarela, de Ary Barroso, com Aracy de Almeida
Quem ouvir, verá !
Programa Compositores do Brasil
Às quintas-feiras, às 14 h.
Rádio Educadora do Cariri
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
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