TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 5 de dezembro de 2009

de muito sentir falta

de muito sentir falta
sentir falta da calçada
onde o mundo abriu sua porta
uma senha que se perdeu
ao buscar-me no que não era meu

sentir falta de vozes
sobre coisas mais simples
do que o trânsito
a final do campeonato
um falar sobre música
quase meia noite numa esquina

sentir falta dos olhos
e dos cabelos dela
agora tomada pela ciência
dos homens inventando a vida
uma reza um monte de senhoras
não sei se no sertão que há fora
ou no sertão perene em mim

sentir falta dos nomes das ruas
que a gente acaba por esquecer
por causa do vento num sopro
sobre as escamas do tempo
tempo de mil desvios
quando nunca se sabe onde começa
nem onde termina a dúvida
de todo dia sempre presente

sentir falta de um rosto
entre os dias
homem duro sobre um cavalo
pisadas na alma de um menino
marcando sua carne com tristeza
transfigurada em palavras
mas sempre tristeza
maior do que as palavras

sentir falta da casa
em sua matéria de sonhos
um pouco de magia e preconceito
mas também um pouco de festa
na fala das pessoas lá dentro
sem aguardar o futuro
com seus túneis e galerias
construídos com o medo
que veio depois escancarar sua face

sentir falta de tanta coisa
corrompida pelo caos do presente
coisa sem sentido
que passa passou e passará
pássaro perdido no voar

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