Pioneirismo do Crato nas Artes Cênicas Cearenses
Nela observa-se toda a cidade a partir do Barro Vermelho e junto com sua assinatura lê-se o texto, em perfeita letra manuscrita: “Vista da Cidade do Crato em 14 de Março de 1860”. Lá nos defrontamos com um Crato provinciano novecentista : a praça, a cadeia pública, o Senado, o primeiro sobrado , a Rua Grande, a Matriz com uma só torre( a outra só seria construída em 1909).Esta peça de Carvalho prima não só pela arte e perfeccionismo de um artista maior, mas pelo pioneirismo. Fã incondicional da aquarela de Reis Carvalho, de há muito me intrigava um fato. À direita da gravura, onde se observa a Travessa do Rosário, atual Praça Juarez Távora, existia já um casario muito desenvolvido, inclusive com sobrados. Como explicar tamanho e rápido desenvolvimento quando a história registra a construção do primeiro sobrado apenas três anos antes da chegada da Comissão Científica ? Alguns pesquisadores locais a quem consultei levantaram a possibilidade de Reis Carvalho ter carregado nas cores e criado um casario fictício , apenas ilustrativo, o que me parece improvável. Carvalho vinha em missão científica e acredito que primava pelo rigor fotográfico daquilo que retratava. Recentemente, lendo o fabuloso “O Cariri” de Irineu Pinheiro, tive esta constatação. Segundo Irineu Pinheiro o Teatro de Todos os Santos estava sito em uma área da atual Rua Monsenhor Esmeraldo , entre a Associação Comercial e o vistoso prédio onde funcionou a Casa de Saúde N. S. da Conceição, do Dr. Antonio Gesteira na Rua Santos Dumont. Como em dezembro de 1859 , Freire Alemão registra no seu Diário ter assistido a uma peça lá, debrucei-me na gravura de Reis Carvalho e acredito ter localizado, provavelmente, o prédio do nossa famosa e pioneira casa de artes cênicas. Dissequemos, cuidadosamente a aquarela de Reis Carvalho:
Há 150 anos, do alto do Barro Vermelho, o pintor José dos Reis Carvalho , enquanto debuxava sua aquarela, sequer terá percebido a importância da obra que deixava para a posteridade. Naquele domingo de dezembro de 1859, o cientista Freire Allemão adentrou as portas do Teatro todos os Santos sem ao menos se dar conta que testemunhava um instante seminal na história das artes cênicas cearenses. O poeta Gonçalves Dias , encantado pelas fontes do pé de serra, ainda pensou em comprar terras no Cariri. Foram-se logo depois, no turbilhão da vida, e aqui não mais retornaram. Suas passagens meteóricas, no entanto, iluminam ainda hoje os céus da história sul – cearense. Por causa deles é que ,ainda hoje, se alguém duvida do pioneirismo cratense, podemos , como o velho timbira, pular das tamancas e gritar: “Meninos, eles viram !”
Reis Carvalho
José dos Reis Carvalho (1800-1872?) (Foto 9) certamente foi um artista plástico da maior nomeada. Aluno do grupo de 21 alunos fundador da Classe de Pintura da Academia Imperial de Belas Artes(1826) e discípulo de Jean Baptiste Debret(1768-1848). Por incrível que possa parecer, muitos mistérios rondam a sua biografia. Há indícios históricos demarcando o nascimento em 1800, no Ceará e falecimento, no interior do Rio de Janeiro, em 1872, embora existam relatos de trabalhos seus datados de 1884, denotando que o nosso pintor teve uma longa e produtiva existência. Além da suposta nacionalidade cearense , um fato histórico une a trajetória de Reis Carvalho intimamente aos nossos verdes mares bravios. Ele foi o pintor oficial da “Comissão Científica Exploradora”.A ele devemos o mais importante registro iconográfico da cidade do Crato, no Século XIX. Reis aqui esteve e deixou sua presença indelével na nossa cidade quando pintou a primeiro registro pictórico que se conhece de Crato, uma linda aquarela de 22X49cm, hoje uma peça preciosa do acervo do nosso Museu municipal (Figura 10).
Nela observa-se toda a cidade a partir do Barro Vermelho e junto com sua assinatura lê-se o texto, em perfeita letra manuscrita: “Vista da Cidade do Crato em 14 de Março de 1860”. Lá nos defrontamos com um Crato provinciano novecentista : a praça, a cadeia pública, o Senado, o primeiro sobrado , a Rua Grande, a Matriz com uma só torre( a outra só seria construída em 1909).Esta peça de Carvalho prima não só pela arte e perfeccionismo de um artista maior, mas pelo pioneirismo. Fã incondicional da aquarela de Reis Carvalho, de há muito me intrigava um fato. À direita da gravura, onde se observa a Travessa do Rosário, atual Praça Juarez Távora, existia já um casario muito desenvolvido, inclusive com sobrados. Como explicar tamanho e rápido desenvolvimento quando a história registra a construção do primeiro sobrado apenas três anos antes da chegada da Comissão Científica ? Alguns pesquisadores locais a quem consultei levantaram a possibilidade de Reis Carvalho ter carregado nas cores e criado um casario fictício , apenas ilustrativo, o que me parece improvável. Carvalho vinha em missão científica e acredito que primava pelo rigor fotográfico daquilo que retratava. Recentemente, lendo o fabuloso “O Cariri” de Irineu Pinheiro, tive esta constatação. Segundo Irineu Pinheiro o Teatro de Todos os Santos estava sito em uma área da atual Rua Monsenhor Esmeraldo , entre a Associação Comercial e o vistoso prédio onde funcionou a Casa de Saúde N. S. da Conceição, do Dr. Antonio Gesteira na Rua Santos Dumont. Como em dezembro de 1859 , Freire Alemão registra no seu Diário ter assistido a uma peça lá, debrucei-me na gravura de Reis Carvalho e acredito ter localizado, provavelmente, o prédio do nossa famosa e pioneira casa de artes cênicas. Dissequemos, cuidadosamente a aquarela de Reis Carvalho:
1- Igreja da Sé
5- Atual Praça Siqueira Campos
5- Atual Praça Siqueira Campos
2- Casa Paroquial
6- Barro Vermelho
3- Casario da Rua do Pisa
7- Casarão do Cel Antonio Luiz
4- Senado e Cadeia
8- Teatro de Todos os Santos
8- Teatro de Todos os Santos
9 – Travessa do Rosário
Abaixo um detalhe da Travessa do Rosário :
Abaixo um detalhe do Teatro de Todos os Santos , na perspectiva, ao lado e atrás do Casarão do Cel Antonio Luiz:
Epílogo
Há 150 anos, do alto do Barro Vermelho, o pintor José dos Reis Carvalho , enquanto debuxava sua aquarela, sequer terá percebido a importância da obra que deixava para a posteridade. Naquele domingo de dezembro de 1859, o cientista Freire Allemão adentrou as portas do Teatro todos os Santos sem ao menos se dar conta que testemunhava um instante seminal na história das artes cênicas cearenses. O poeta Gonçalves Dias , encantado pelas fontes do pé de serra, ainda pensou em comprar terras no Cariri. Foram-se logo depois, no turbilhão da vida, e aqui não mais retornaram. Suas passagens meteóricas, no entanto, iluminam ainda hoje os céus da história sul – cearense. Por causa deles é que ,ainda hoje, se alguém duvida do pioneirismo cratense, podemos , como o velho timbira, pular das tamancas e gritar: “Meninos, eles viram !”
Texto e Pesquisa : J. Flávio Vieira
Bibliografia:
Allemão, Francisco Freire, “Diário de Viagem – Crato-Rio de Janeiro-1859/1860” , Museu do Ceará, 2007;
Pinheiro, Irineu, “Efemérides do Cariri”, Imprensa universitária do Ceará, 1963
Braga, Renato, “História da Comissão Científica de Exploração”, Edições Demócrito Rocha, 2004
Pinheiro Irineu, “O Cariri, seu descobrimento, povoamento, costumes”, Fundação Waldemar Alcântara, 2009
Filho, J. de Figueiredo & Pinheiro, Irineu, “Cidade do Crato” , Departamento de Imprensa Nacional, 1955
Brígido , João , Jornal “O Araripe” , Edições de 1858-1861
Agradecimentos especiais à Fundação J. Figueiredo Filho / Museu do Crato
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