Depois de amanhã
(segunda-feira
é um dia perfeito)
sentarei com a boca aberta
olhando a dentista toda de branco.
Pedirei a meio sorriso
(charme de roedor)
que me restaure os dentes
os dois dentes da frente.
Imagino a mesma
do semestre passado:
os olhos azuis
um riso vasto
jeans de marca
e bata (alvura do paraíso).
Dirá que o plano não cobre
mas haverá um ótimo desconto.
A dentista loira
um perfume lavanda
(clássico de bebês
e adolescentes)
logo me hipnotizará
com seu sorrisão
e uma pontinha de segredo
na covinha da face direita.
Não terei forças.
Não direi não.
Sentado naquela cadeira gigante.
A boca cheia de algodão.
Direi sim, doutora:
Deixe meus dentes da frente
(de esquilo) e as duas presas
(de vampiro) fortes e brilhantes.
Não tenho escolha.
Preciso pular varandas
adentrar em quartos
beijar nucas
e morder.
Morder nem que seja
o braço da cadeira
o pescoço da escrivaninha.
A doutora vai rir.
De fato, gargalhar.
A covinha quem sabe
despregue-se do seu rosto
dessa vez no meu colo
pouse.
Aquela covinha
que só as meninas ricas têm
e quando se tornam dentistas:
esbanjam.
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