Canta um passarinho
na varanda do vizinho.
Nem sempre ouço.
Mas sei que canta.
O passarinho me pede
por telepatia
que lhe salve
da gaiola.
Sou um covarde.
Sorrio para o vizinho
e até lhe agradeço
pelo canto do passarinho.
Deveria mesmo cravar-lhe
uma chave de fenda
no pescoço.
Mas sou um covarde.
Calo-me.
Sequer esboço
olhar de censura.
Chego ao cúmulo
de elogiar os sagrados hinos
que ecoam da sua varanda.
O vizinho se enche de orgulho.
Diz que todos os seus passarinhos
bem tratados com água doce
e farelos pão de mel.
Ouço sua voz de gralha.
Enquanto minha vontade
é lhe esmurrar a cara.
Quebrar-lhe os dentes.
Mas sou um covarde.
Estendo-lhe a mão.
Disfarço.
"até logo, vizinho,
seus passarinhos uma joia..."
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