Basta-me o quarto.
Apertadinho mas sonoro.
Aqui todos os objetos falam.
As paredes se requebram.
O teto estufa o peito.
Os fantasmas antes
que arrastem suas correntes
têm que pedir "licença, moço"
e as fadas (da dor de dente
e da gengiva inflamada)
precisam trazer na bolsinha
um analgésico senão morfina.
Basta-me o quarto.
Apertadinho mas radiante.
Perfeito o espaço entre
a cama box solteiro
e a escrivaninha.
Ao entrar no banheiro
primeiro respiro forte
quebro duas costelas
encolho o abdome
dou um majestoso salto
e já caio sob o chuveiro.
Aqui ninguém é mais ou menos.
O armário com seus livros.
A cama com seus travesseiros.
As botas com suas meias dentro.
Basta-me o quarto.
A minha praça predileta.
O jardim nem tão cuidado.
Mas tem uma fonte borbulhante.
Passam por aqui todo tipo
de nuvens: chapéus, dragões,
duendes, animais pré-históricos,
fisionomias de princesas e reis.
Basta-me o quarto.
Seus contornos ocultos
em cada junção de cantos.
Sandálias esquecidas,
moedas encantadas,
asas de insetos.
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